A falsa questão Norte-Sul

Muito se tem falado sobre o investimento nacional na região sul em detrimento do norte do país. Tais queixas motivaram recentemente uma acto oficial de Rui Rio, presidente da câmara do Porto. A sustentação da queixa está assente nas supostas obras feitas em Lisboa com dinheiro que estava previsto para a zona Norte. Só que a pré-campanha de uma luta que se adivinha complicada para Rio pode ter apressado o autarca a querer preencher as noticias com argumentos que põe qualquer portuense ou nortenho bairrista (que pleonasmo!) do seu lado.

A verdade é que o desmentido do Governo Português explica sucintamente a forma como o QREN e Quadros Comunitários de Apoio têm vindo a tentar distribuir de forma equilibrada os fundos, consoante as necessidades das regiões.

De 93 a 99, no QCA II, a zona de Lisboa e Vale do Tejo açambarcou mais de um terço das verbas com que o Pais foi dotado. No QCA seguinte, houve uma diminuição de 50% do valor representativo dessa cota. Passou de 33 a 15%. No que ao QREN diz respeito, Lisboa contará apenas com 2.7% dos quase 20 mil milhões de euros da tranche entregue a Portugal. Esta redução ímpar na história do fundos comunitários vem de encontro aos pedidos contínuos das regiões menos desenvolvidas e de outras a necessitar de reconfigurações a diversos níveis: Se Lisboa é Portugal, refiro-me aos arredores, ou seja tudo o resto em que não se investiu o necessário em tantos anos de fundos comunitários.

No entanto a Comissão Europeia e o Governo Português reflectiram e aperceberam-se, por alerta inicialmente de Bruxelas, que a redução brusca dos investimentos na capital portuguesa, sendo esta geradora de riqueza e sede de actividades, como os centros de apoio ao financiamento ou serviços centrais administrativos, de que depende o resto do pais, poderia ter efeitos nefastos no crescimento económico das outras regiões.

Mas mesmo estes casos são excepcionais e em número reduzido. Ou seja, ao contrário da informação que tentaram passar, não vão ser transferidos grandes investimentos dos fundos atribuídos ao norte, para Lisboa. Senão vejamos, até 31 de Março de 2009, mais de 40% das verbas do QREN distribuídas em Portugal, destinam-se à região Norte. Monitorizável por todos, aqui.

Aliás, podemos afirmar sem grandes receios, que nunca Portugal assistiu, proporcionalmente falando, a um tal investimento no Norte e interior do país em detrimento da grande capital.

5 reacções:

Tiago Laranjeiro | 16:18

Paulo, a questão de Rui Rio não tem a ver com verbas que tinham sido atribuídas no âmbito do planeamento do QREN à região de Lisboa e Vale do Tejo. Embora o facto de essas mesmas verbas terem sido atribuídas a essa região, a mais rica de Portugal e em que o PIB per capita em paridade de poderes de compra é superior à média europeia, seja altamente questionável, como já vi ser por eurodeputados portugueses como Silva Peneda.

A questão de Rui Rio devia-se a estarem a ser afectas verbas destinadas de início ao Norte do país, extraordinariamente, à região de Lisboa e Vale do Tejo.

Quanto à "desproporção" entre o que está destinado, no QREN, ao Norte e ao resto do país, não me choca. Se leres os dois artigos que aqui escrevi sobre este assunto penso que perceberás bem o quanto o Norte empobreceu face ao resto do país e da Europa, nos últimos anos, em grande parte devido à inadaptação do sector industrial à globalização. Assim, parece-me justa esta atribuição.

P.S.: Que campanha é que será difícil para Rui Rio? Aquela cuja sondagem ainda na semana passada lhe dava uma maioria absoluta de 58% contra cerca de 25% do principal partido da oposição local?

Anónimo | 17:11

"só que a pré-campanha de uma luta que se adivinha complicada para Rio"

Complicada??? Um 58%/28% da últimas sondagem e falando-se da eventual desistência de Elisa Ferreira? LOLOL só para rir, mesmo.

Paulo Lopes Silva | 17:19

Tiago,

a justificação para a atribuição dessas verbas a Lisboa e Vale do Tejo está no texto.

Esse suposto desvio são verbas que apesar de serem aplicadas em Lisboa dizem respeito a inovações e obras que beneficiam todo o país.

Esse empobrecimento do Norte está a ser resolvido com este QREN. claro que é um primeiro passo depois de tantos anos a ser prejudicado.

A campanha que será dificil para Rio será aquela que é dificil para todo o autarca. E se tentar leva-la democraticamente terá dificuldades porque Elisa Ferreira é uma pessoa extremamente capaz que conseguirá levantar questões que Rio terá dificuldades em responder. Quanto ao resultado, será diferente da dificuldade da campanha, é certo.

E para Rio, o Porto não será por certo a única luta em que se envolverá...

Tiago Laranjeiro | 17:22

"E se tentar leva-la democraticamente terá dificuldades". Não compreendi esta parte...


Bem, mas quanto ao QREN: acho imensa piada a esses projectos estratégicos para Lisboa que beneficiam todo o país. Deve ser o caso do TGV e da travessia sobre o Tejo, por exemplo... A mim, aqui no Norte beneficia-me de uma maneira...

Paulo Lopes Silva | 18:15

Quando digo leva-la democraticamente, digo dando resposta aos assuntos levantados pela oposição e mantendo a discussão acesa em favor do esclarecimento da população portuense.

Quando escrevi a minha resposta pensei com os meus botões: "é digna de levar resposta de demagogia barata, e vem já aí o TGV e outras que tais.". Não se confundam as coisas, Tiago!