Guimarães afinal está a mudar




A cidade está mesmo a sofrer alguma alteração. Senão analisemos alguns dos resultados eleitorais do último domingo. A CDU perdeu cerca de 2000 votos em todo o concelho. Voto na esmagadora maioria de António Magalhães ou apenas um castigo à campanha de "preguiça" que assistimos um pouco por todo o concelho por parte da Coligação.

Contrastando totalmente com o resultado do CDS, que ganha à volta também de 2000 votos alicerçado, claro está, no crescimento nacional, mas também na renovação do partido em Guimarães, no aparecimento com alguma visibilidade da Juventude Popular, e na campanha que fomos capazes de ver na rua.

Já o Bloco de Esquerda foi claramente castigado por um eleitorado muito próprio vimaranenses, onde vão buscar votos à juventude e às elites culturais, que sendo-o esforçam-se por estar informadas, e dessa forma foram capazes de reconhecer a fraca participação dos mesmos no último mandato da Assembleia Municipal. Reforça a ideia que tinha previamente: não existe Bloco em Guimarães com a actual estrutura.

O MRPP perde também cerca de 300 votos, num ano em que até aposta forte nas campanhas das freguesias. Sofre aqui uma derrota que pode ter sinais em termos de futuro em Guimarães.

Mas o derrotado da noite não pode deixar de ser o PSD. O único partido que se dizia alternativa ao poder, perde cerca de 1000 votos, perde 1 vereador e 2 deputados na AM, e perde na minha opinião, e como tive oportunidade de o dizer em análise à entrevista a Carlos Vasconcelos, porque não apresenta uma verdadeira alternativa.

Não apresenta um projecto totalmente diferente, reforça as mesmas críticas que não colaram no passado, falha na comunicação das propostas ao público geral que não percebe alguma parte dos cartazes da rua, nem dos títulos que passam para os jornais, falha globalmente na comunicação desta campanha com alguns "tiros nos pés" desde cedo com uma cidade na moda que queriam que mudasse de vida, e falha, por fim, ao apresentar um candidato pouco carismático, que pouco apareceu, e que foi abandonado a meio do processo eleitoral por um colectivo que nunca se viu fortalecido como se dizia estar. Apresentou Alexandre Cunha, líder da JSD, como responsável pela campanha, mas apresentou como mandatário da juventude um jovem à revelia dessa estrutura. Apostou na juventude nas listas autárquicas, mas convidou Pedro Rodrigues, eterno derrotado em Guimarães pela actual direcção, para regressar. Quiseram mostrar união, partindo por dentro aos poucos. 

Passam para o próximo mandato a ter que encontrar culpados. A ter que fazê-los assumir a culpa. Juntando tudo isso ao facto de terem uma gestão que se adivinha penosa para Carlos Vasconcelos (?) da bancada da Assembleia Municipal onde se encontram as facções que vão querer chegar ao poder.
Se ao analisarmos tudo isto, sob o resultado a nível distrital do PSD, a mais que provável saída de Virgílio Costa, e a possibilidade de desde já termos a primeira divisão da concelhia social-democrata para o suceder, adivinhamos tempos difíceis.

8 reacções:

Ana C. | 14:56

A análise dos resultados eleitorais, especialmente nas autárquicas, é um pouco mais complexa do que isso. A dificuldade aumenta quando aquele que analisa um acontecimento é ao mesmo tempo actor desse acontecimento. Proponho-lhe um exercício simples: aplicar à análise dos resultados que obteve na eleição a que foi candidato a mesma grelha que aplica para analisar os resultados dos outros. Olhemos, então para os resultados de S. Sebastião, Guimarães. O PSD ganha a Junta, o PS ganha para a Câmara. Para a Junta, o PS desce a sua votação em relação a 2005, mas sobe para a Câmara. Em 2009, para a Câmara, o PS obteve aproximadamente mais 30% do que para a Junta.

(Em contrapartida, nesta freguesia, na eleiçãopara a Junta, a CDU aumenta a sua votação em relação a 2005 e retira um mandato ao PSD.)

Deveremos, pois, presumir que a lista do PS para a Junta de S. Sebastião foi uma campanha de "preguiça"?

Samuel Silva | 15:35

Oh Ana C., vá lá informar-se melhor. Por muito que o Stape tenha a culpa, a CDU já tinha um mandato em S. Sebastião.

Paulo Lopes Silva | 16:04

A análise de um caso específico nunca se pode comparar com uma análise global de 69 freguesias.

A campanha do PS em S. Sebastião foi a possível e não chega para uma freguesia PSD que vota PS para a Câmara por António Magalhães.

Quem retira o mandato ao PSD é o CDS. Informe-se melhor.

Paulo Lopes Silva | 16:05

além de que S. Sebastião perdeu 200 eleitores. Não é sequer justo compararem-se resultados e dizer que se mantiveram votações.

Ana C. | 18:25
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana C. | 18:26

Meus caros,

Admito que esteja enganada quanto a quem tirou o eleito ao PSD. Como o Samuel notou, a culpa não é minha: se nós não confiamos nas entidades oficiais responsáveis por disponibilizarem a informação, em quem vamos confiar (http://www.eleicoes.mj.pt/Autarquicas2005/AF/D03/C08.html)?

Mas esta questão não altera o que eu disse antes, pegando nos dados de S. Sebastião: apesar da redução do número de eleitores, para a Junta, de que fala o Paulo, a CDU teve mais votos do que em 2005 e o PS teve menos (a não ser que os dados do STAPE estejam todos gralhados) (e se a redução valia para a Junta de freguesia, também devia valer para a Câmara, onde o PS aumentou a sua votação, em núrmeros absolutos e em percentagem).

Mas não era esta a minha questão. A minha questão é que a análise dos resultados eleitorais para as autarquais não pode ser feita em termos simplistas. As variáveis que interferem são demasiado complexas. E aqui, os aspectos pessoais sobrepõem-se, muitas vezes, às afinidades partidárias.

Diz-me o Paulo:

"A campanha do PS em S. Sebastião foi a possível e não chega para uma freguesia PSD que vota PS para a Câmara por António Magalhães".

Ok. Nada a dizer. A campanha foi a possível, o que não me leva a classificá-la de preguiçosa. Mas tem de aceitar que esse argumento deve valer para todos e não só para si, e admitir que a campanha dos outros também pode ter sido "a possível". Estando por fora, admito que a campanha do PS e a do PSD tenha tido meios que as outras não tiveram (não conheço os dados do PS, mas foi notícia que a campanha do PSD em Guimarães tinha um orçamento de cerca de 70.000 contos).

Mas, confesso que acredito pouco na capacidade das campanhas em alterarem o sentido do voto dos eleitores. Mais, estou absolutamente convencida de que, se as eleições autárquicas não tivessem sido logo a seguir às europeias e às legislativas, o voto político teria tido nelas um peso bem diferente. É público que o PS em Guimarães sempre foi penalizado em eleições quando o partido estava no poder a nível nacional. Desta vez, isso não aconteceu: o voto de protesto já tinha tido efeito antes, com a pesada derrota nas europeias e a perda da maioria absoluta nas legislativas. Vai daí, desta vez, os elitos locais não comeram por tabela por força da conjuntura política nacional. Os eleitores votaram em quem tinha obra para mostrar, para a Câmara e para as freguesias embora eu não saiba que obra tenha para mostrar uma junta de freguesia do centro urbano de Guimarães...).

Samuel Silva | 18:32

A CDU teve, de facto, menos dois votos que em 2005 em S. Sebastião. Os dados de CDS e CDU estão, no site do MJ, do avesso.

A grande subida na freguesia é do CDS. São eles quem tira, de facto, a maioria absoluta ao PSD.

Já o PS perde menos votos que o PSD, mas ambos perdem, quanto a mim, pelo simples facto de terem diminuído o número de eleitores na freguesia. (menos 52).

De resto, os resultados são praticamente os mesmos de há quatro anos.

Quanto a campanha, confesso que não a vi. A não ser os cartazes, o único programa da freguesia que me chegou à caixa do correio (que é bem acessível, garanto) foi a do PS.

Samuel Silva | 18:34

Quanto aos últimos dois parágrafos do seu segundo comentário deixe-me dizer-lhe que concordo com eles. Mas o PS não sobe apenas por causa do voto político (ou da ausência dele), sobe por causa da mobilização do eleitorado PSD (ou da ausência dela). Algo que reflecte, quanto a mim, alguma desconfiança da ala conservadora dos eleitores do partido de um candidato como Vitor Ferreira, conotado com a esquerda.