Autárquicas 2009: Se esta Câmara fosse minha (I)
"Alguns dias depois de ter aceite o convite para escrever sobre algumas ideias para Guimarães caso fosse eleito Presidente da Câmara, fiquei sem muitas dúvidas de que, mais do que ideias concretas sobre determinados projectos a implementar, faria muito mais sentido começar por reflectir sobre o processo de decisão e a relação entre o poder político e a sociedade que representa. Por um lado, porque após uma breve pesquisa verifiquei que as boas ideias que me ocorreram já têm voz. Por outro, talvez porque se dá mais importância à proveniência do que ao conteúdo, não sei realmente o que o poder político pensa delas e que alternativas tem.
Não concordo com a política de ter meia-dúzia de «projectos estruturantes» escondidos nos gabinetes de Santa Clara, conhecidos apenas por alguns, como se a simples discussão dos mesmos os pudesse levar ao fracasso. Aliás, como me parece ter ficado evidente na questão da requalificação do Toural, é mesmo a discutir, explicar, obter reacções, re-desenhar e voltar a público que se consegue transformar um projecto técnico, funcional mas sem identidade, numa requalificação profunda mas bem aceite pela maioria.
O «corpo estranho» que era o primeiro projecto concebido para o Toural, ou que ainda é hoje a Capital Europeia da Cultura 2012, não ajuda à identificação e defesa dos mesmos pelos cidadãos. Cidadãos esses que cada vez mais querem ser informados e participar das decisões, organizando-se nesse sentido. A sociedade é cada vez mais activa e alguns sectores, principalmente ligados a universidades ou grupos profissionais, têm até um conhecimento mais específico e especializado que não se pode ignorar na tomada de decisões.
Uma nova cidade terá que comunicar de forma diferente. É muito importante que o rumo estratégico seja público e que os meios com que se pretende atingir esse rumo sejam definidos e monitorizados. A universidade, as empresas, as associações de cidadãos devem fazer parte desse rumo, trabalhando em rede com os gabinetes municipais no sentido de serem mais facilmente perceptíveis os ganhos, dificuldades ou ajustes a fazer. E, obviamente, qualquer cidadão poderá ter acesso aos indicadores monitorizados. A informação é, nos tempos que correm, fulcral. O município tem o dever de dar todas as informações que permitam às entidades tomarem decisões de investimentos ou de alteração de estratégias.
Partindo deste pressuposto, torna-se essencial a criação de mecanismos que permitam estas redes de comunicação. A Carta Educativa e o projecto de Carta da Cultura que é, na essência, a Fundação Cidade de Guimarães, são embriões do que se pode também replicar para outros sectores. E as decisões, tomadas no âmbito de uma rede, com contributos de vários intervenientes, podem recentrar o debate nos projectos em si, identificando os seus pontos fortes e fraquezas, acabando com discussões inúteis e quase infantis sobre quem é o autor do projecto ou levando ao voto favorável/ desfavorável conforme seja um projecto da maioria ou da minoria.
Para terminar, voltando à ideia inicial do texto e deixando apenas uma das prioridades que acho importante resolver num futuro próximo, parece-me impossível estarmos tão longe (aparentemente) da concretização dum Plano de Mobilidade que responda às necessidades de um concelho com cerca de 2 terços da população a viver fora da cidade, e às necessidades de uma região que tem nos próximos anos uma série de desafios que a podem tornar mais competitiva, dinâmica e cosmopolita. É impossível, por exemplo, pensar na CEC 2012 sem um plano estruturado da rede de transportes públicos. Ou então imaginar o AvePark e o Instituto Ibérico sem ligações privilegiadas aos pólos universitários e centros urbanos de Guimarães e Braga. Os meios à disposição dos cidadãos determinam e muito a forma como estes se movem e transformam os hábitos duma cidade ou região. E se queremos alterar a forma como se vive Guimarães, a rede de transportes é fundamental. Sobre isto temos a certeza que o trabalho está a ser feito. O problema é que, tal como no caso da CEC, é mesmo apenas isso o que se sabe. E vivemos nós na era da Sociedade da Informação".
Por Rui Silva.
8 reacções:
Desculpem o abuso. Mas só para informar que o Arrastão está a fazer um inquérito às intensões de voto nas próximas autárquicas em 38 concelhos. Guimarães é um deles. Se quiserem ajudar a divulgar... Obrigado.
Intenções ó Arrastão, intenções.
ai Daniel, Daniel!
Tens sempre as Novas Oportunidades!
Muito bem Rui Silva. A questão da Mobilidade é, talvez, dos aspectos mais importantes da actualidade vimaranense. E se começassemos a falar de uma rede de Metro operando entre Fafe, Braga, Guimarães, Famalicão e S.Tirso?
Parece-me que o estudo de linhas férreas urbanas já deve estar a ser avaliada pelos municípios, ou pelo menos pelos técnicos a trabalhar no Plano de Mobilidade.
Uma coisa é certa: estamos a falar de um distrito com quase um milhão de habitantes, com inúmeras ligações comerciais e institucionais entre os vários centros urbanos e que só pode beneficiar com isso.
Uma linha de metro só faz sentido dentro de um mesmo aglomerado urbano. Está na moda usar-se esse termo, mas a experiência da linha da Póvoa, integrada no Metro do Porto, mostra o que não se deve fazer.
Agora, essas ligações fazem sentido quando pensadas numa óptica de ferrovia tradicional. Disso não tenho dúvidas nenhumas.
Creio que uma linha de Metro faz sentido para unir pontos cujos fluxos se alteraram ou foram alterando com o passar do tempo. O Vale do Ave caracterizou-se pela ficção geográfica e física das populações. Isto num tempo de grande industrialização. Neste periodo pós-industrial que agora nos visita, não creio que seja possível fazer shoppings em S.Torcato, Taipas, S.João do Coronado, Brito, Joane, etc.. Também não teremos a população a rumar sobre as cidade. Assim o desenvolvimento futuro far-se-á através da mobilidade individual...
ler fixaçao em vez de ficção s.f.f.
Enviar um comentário