Uma Acacdemia entre duas cidades

Quiseram os decisores políticos, em 1973, adoptar para a Universidade do Minho um modelo inédito até então em Portugal – e ainda hoje pouco utilizado. A UM ficou dividida entre duas cidades que tinham ainda mais diferenças entre si do que motivos para se aproximarem.

Braga e Guimarães viveram demasiado tempo de costas voltadas e a partilha de uma instituição com o peso de uma Universidade era um desafio. O conceito de uma Universidade para uma região era ainda difuso, mas, 34 anos volvidos, parece ter resultado plenamente. Todavia, a forma como as duas cidades acolheram a UM é bem distinta.

A vida em Braga não seria a mesma sem a Universidade do Minho. A coincidência temporal entre o crescimento da cidade e a presença da UM não é apenas acaso. A cidade sente a presença dos estudantes, o comércio, o imobiliário e mesmo a cultura em Braga cresceram em torno da Universidade e dos seus estudantes.

No entanto, não vejo os responsáveis políticos bracarenses a olharem para a UM como peça central de um modelo de cidade. Em cinco anos na UM, não me lembro de ter visto pelo campus o presidente da Câmara. E isto é sintomático de um voltar de costas problemático.

Guimarães, pelo contrário, nunca acolheu a Universidade de forma calorosa. A cidade é feita de um mitologia própria, de um bairrismo arreigado e de uma forte componente tradicional. Desse modo, a UM foi vista, durante muito tempo, como um corpo estranho na cidade, uma espécie de estância invasora, que desse modo se quis afastada da vida da cidade.

Só há relativamente pouco tempo começaram a surgir, ao redor do campus de Azurém, lojas de comércio vocacionados para os estudantes e uma oferta de habitação compatível com a condição de estudante. E ainda assim, muito está por fazer quanto à real integração dos estudantes da UM no quotidiano vimaranense.

Pelo contrário, a nível político, há muito Guimarães percebeu a potencialidade que tem dentro de portas. A prova mais evidente desta realidade é a aposta no projecto CampUrbis em que autarquia e Universidade se associam para renovar o quarteirão industrial da cidade, transformando-o num centro de ciência e cultura – com a Capital Europeia de 2012 como cenário.

Diferenças à parte, importa salientar que, mais de três décadas volvidas, a UM foi, acima de tudo, um motivo de aproximação entre as duas maiores cidades do extremo Norte do país. Falar no Quadrilátero Urbano sem UM não faria sentido. E projectos vitais para o desenvolvimento da região como uma ligação ferroviária entre Braga e Guimarães são mais pertinentes quando se pensa em ligar dois centros de inovação e conhecimento como os campi de Gualtar e Azurém.


Artigo publicado na coluna "Do Riso e do Esquecimento" na versão imprensa do ComUM que hoje está em circulação.

3 reacções:

Anónimo | 15:42

Obrigado pela importância que continua a dar a BRAGA!!!

Samuel Silva | 18:25

Alguma vez a neguei?

Dario Silva | 00:31

Viva Barcelos.
Viva Couto de Cambeses e o seu Comboio...

Dario Silva.