A CEC e a música

Do programa de Guimarães - Capital Europeia da Cultura 2012 surge a ideia de criar uma orquestra que "acolherá a programação da música daquela iniciativa". Esta orquestra pretende-se a funcionar de Dezembro de 2011 a Dezembro de 2012 (segundo o anúncio de que aqui se fala). A figura jurídica encontrada para sustentar esta orquestra foi... uma fundação. Responsáveis pelo projecto afirmaram publicamente que, por falta de meios, não se assegura a continuidade deste projecto para já de 2012.

Assim, vai-se criar uma "orquestra sinfónica de jovens músicos", que "se constituirá como eixo central da programação de música clássica". A fazer fé na informação disponibilizada, é legítimo perguntar-se que marcas deixará esta orquestra para futuro em Guimarães. Sendo um projecto que se consome no espaço desse ano que se prevê de intensa programação cultural no concelho, o que ficará para futuro? Que sementes, que lastro deixará? É difícil, para não dizer impossível, defender-se com sinceridade que no espaço de 12 meses de existência (o que está longe de significar 12 meses de actividade pública) será possível formar novos públicos. Por muito bem sucedido que seja este projecto, todos os sonhos que desperte finar-se-ão no início de 2013, potenciando o efeito de ressaca que provavelmente ficará, pelo esvaziamento de actividades culturais. Para além disso, levanta-se a questão da qualidade do se trabalho: 12 meses é um período demasiado curto para que esta Orquestra consiga fazer um trabalho significativo e marcante.

Mas a este projecto soma-se um outro difícil problema. A Câmara Municipal de Guimarães é sócia fundadora da Associação Norte Cultural, entidade que suporta a Orquestra do Norte. Desde 1992 que Guimarães participa e co-financia este projecto, que conquistou já um espaço próprio na música clássica portuguesa e que tem dado passos seguros a nível internacional. É sabido que a Autarquia vimaranense tem empurrado a Orquestra do Norte para um plano secundário, não lhe permitindo no nosso concelho o destaque que poderia alcançar (a Orquestra nunca actuou no palco mais nobre da nossa cidade, o do Centro Cultural Vila Flor). O mais incrível é que, pelo menos até Junho de 2010 (não disponho de informações sobre o último ano), nunca o director desta Orquestra fora ouvido no âmbito da preparação da CEC2012.

Esta é mais um caso em que se prescindiu de trabalhar com "prata da casa", com quem aqui se esforça por fazer acontecer há muito tempo, a favor da importação de produtos.

3 reacções:

Cidadão com dúvidas | 23:05

Caro Tiago
Uma questão surge: quanto custará? quanto dinheiro será investido numa orquestre sem futuro?
A CEC deverá perpetuar a sua existência para além das infraestrutuas. Este não parece ser o caminho...

Tiago Laranjeiro | 23:17

Caro Cidadão com dúvidas,

Não sei quanto custará esta orquestra que se findará em Dezembro de 2012. Foi sempre prometido aos vimaranenses que a CEC estava a ser pensada para "deixar lastro" (expressão que a Ministra Gabriela Canavilhas usou, ainda há uns meses atrás, aquando da apresentação da programação do evento) e não é isso que se está a verificar. Esta entidade, que terá sempre avultados custos envolvidos, é um exemplo de como essa promessa não será cumprida.

Cidadão com dúvidas | 01:18

Caro Tiago,
Parece-me que será um número com seis zeros. Basta olharmos para os custos da Casa da Música com a ONP, no ano de 2009. (990.040,00 €)
https://www.casadamusica.com/flash/relatoriocontas-2009/

Acredito que o investimento será justificado e que é necessário, mas não podemos aceitar que esse mesmo investimento não dê frutos.

É uma situação ridícula. A palavra sustentabilidade faz parte do vocabulário de todos, menos daqueles que deveriam pensar nela.