SuCECso

Neste momento, temos já suficiente informação sobre a CEC2012 para começar a perceber o que se irá passar em Guimarães ao longo do próximo ano. Ainda há muitas lacunas, que suponho que serão preenchidas a prazo. Mas podemos começar a perceber como poderá a CEC ser um sucesso para nós. É esse exercício que aqui faço.

São muitas as obras de requalificação do espaço público que irão ocorrer até lá. Permitirão a quem visita Guimarães usufruir de espaços valorizados, mais adaptados às actuais exigências da nossa sociedade. Espera-se, por exemplo, que venha a ser melhorada a vivência na Colina Sagrada e do Toural e Alameda, permitindo assim reanimar essas zonas, que de certa forma perderam "vida". Serão lugares onde poderemos estar, mais aprazíveis ao convívio e abertos a novas possibilidades na sua animação, permitindo acções (culturais, de artes performativas, por exemplo) até aqui de mais difícil concretizar, valorizando-se também o património edificado existente nestes espaços.

Fotografia da exposição "Árvores do Mundo", disponível no site de Guimarães2012.

Haverá mais oportunidades para a criação artística na cidade. Hoje em dia, Guimarães tem já um nível bastante razoável de programação cultural, mas sente-se uma grande lacuna na criação artística, que os responsáveis por este projecto desde cedo assumiram pretender suprir. Isto acontecerá com a residência de artistas, permitindo que artistas de fora venham a Guimarães produzir e realizar projectos culturais e artísticos, bem como com a Plataforma das Artes, com os seus Ateliers Emergentes de Apoio à Criatividade, "espaços de trabalho vocacionados para jovens criadores que, em diversas áreas de actividade, pretendam desenvolver projectos de carácter temporário" (Notícias de Guimarães de 4/2/2011). Com a visibilidade que estes projectos prevêem, pretende-se também contagiar outros sectores da sociedade vimaranense para este tipo de criações, a maioria delas provavelmente de cariz contemporâneo. Na mesma Plataforma haverá espaço para exposições temporárias e para a colecção José de Guimarães (suponho que a sua colecção de arte africana e pré-colombiana, como chegou a ser noticiado há uns tempos).

Em Couros surgirá um conjunto de edifícios construídos em parceria com a Universidade do Minho, procurando aproximá-la ainda mais da cidade, trazendo consigo as suas valências mais vocacionadas para o design, uma outra aposta estratégica importante para Guimarães (quer falemos de design têxtil, industrial ou de polímeros). Não esquecer que o design é uma das actividades que se integra no conceito abrangente de indústrias criativas, hoje muito em voga e cujo impulsionamento no nosso concelho foi também assumido pelos responsáveis. Aliás, na Plataforma das Artes, aproveitando toda a dinâmica cultural que acontecerá em Guimarães, terá um espaço vocacionado para a incubação de projectos empresariais neste sector.

Da programação cultural sabe-se que será diversificada e intensa. Conhecemos vários projectos que acontecerão na área do cinema e do audio-visual, pretendendo reinterpretar a cidade e projectar a sua imagem no exterior. É um bom sinal e uma aposta segura, de que resultarão muitos "produtos" para memória futura. Da música erudita à dança, às artes performativas ao teatro e às novas tendências musicais urbanas, sabemos que haverá espectáculos para todos os gostos. É bom. Mas não me aprofundarei muito nesta análise pois ainda não foi divulgada a respectiva programação. Registe-se apenas a pluralidade, que permitirá abranger públicos muito diferentes, esperando eu que permita também despertar novos públicos.

O sucesso de tudo isto será o "lastro, a semente" (palavras de Gabriela Canavilhas) que ficará. Os projectos são ambiciosos, principalmente pela diversidade de campos que abrangem. Pretende-se sobretudo que o investimento feito nesse ano não se conclua nele, gere reprodutibilidade. Os consumos culturais em Guimarães terão de aumentar, em número de consumidores e em quantidade (e não atravessamos a época mais simpática para que isto aconteça). Teremos de ser capazes de tornar Guimarães num palco cultural relevante para o Norte de Portugal, ou até para o Noroeste peninsular. E a concorrência aqui será feroz. Para que a CEC seja um sucesso Guimarães precisará de continuar a alimentar o sector cultural (e não poderá nem deverá ser a Câmara ou a Fundação a garantir este "alimento"). A sociedade terá de se dinamizar e despertar para outro tipo de práticas e vivências da polis. E é este despertar que a CEC poderá trazer.

Para que isto aconteça, é também da máxima importância que a CEC chegue a todos os vimaranenses. Não se pode ignorar que uma numerosa franja da nossa população não está sensibilizada para o tipo de oferta cultural que teremos. É importante levar a CEC até eles. É o que afirmam pretender os responsáveis, em particular no teatro. Seria importante que, por exemplo, as nove vilas do concelho tivessem actividades regulares a acontecerem lá. Mesmo que a nível de públicos o sucesso não seja estrondoso (mais do que ver, no sector cultural importa poder ver). A área de Comunidade poderá dar aqui uma ajuda muitíssimo relevante: já provou ser capaz de, partindo de ideias simples e pouco exigentes em termos de recursos, conseguir resultados espantosos e que envolvam a população.

Certamente que a CEC não será panaceia para todos os males de Guimarães, não criará milhares de postos de trabalho nem eventualmente trará emprego a quem mais dele precisa (os desempregados do têxtil, por exemplo). Mas poderá ajudar a criar uma nova dinâmica que ponha Guimarães no mapa da economia criativa peninsular e europeia.

E não nos podemos esquecer de quem mais pensa e traz oferta cultural a Guimarães, historicamente. Falo das associações, um movimento da máxima relevância para a nossa sociedade. Dizem-nos que há projectos a serem trabalhados com estas (o famoso milhão de euros da Tempos Cruzados, de que ainda não se sabe muito). Espera-se que este investimento seja também reprodutor, que lhes permita dar o salto que precisam, mudar métodos de trabalho, que as qualifique em termos físicos e humanos para os muitos desafios a que todos teremos de responder se quisermos que, efectivamente, a CEC seja um sucesso para além da grande festa que será 2012.

Importa também perceber que todos estes aspectos estão interligados. Do sucesso do trabalho fora do centro urbano (onde, por norma, a população está mais sensibilizada para outros tipos de oferta cultural), sermos capazes de despertar novos públicos (e nos "antigos", despertá-los para outras manifestações), criando em Guimarães um ambiente propício a estas actividades e criações culturais, que nos desperte para o trilhar de novos rumos.

1 reacções:

Alex | 11:57

Um dos convidados da CEC é o Vargas Llosa. Não me admirava que cá houvesse alguma "manifestaçãozinha" contra a sua presença. Vejam a notícia da Feira do Livro de Buenos Aires, Argentina, no Público.