Apontamentos sobre o programa

O programa da Guimarães 2012 não nos apresenta grandes novidades face ao que já tinha aprovado no Conselho Geral de Novembro e noticiado em alguns jornais. Mas como a CEC tem passado ao lado da maioria da comunicação social nacional, percebe-se a excitação em volta de alguns nomes apresentado, mesmo que estes sejam tudo menos uma novidade.


O que nos diz, afinal, o tal programa – que dois dias depois ainda não está disponível no site? Diz-nos que a programação vai ser dividida em quatro blocos temporais. A primeira que vai de Janeiro a Março com o nome Tempo de Encontros, outra de Março a Junho (Tempo para criar), uma terceira que se prolonga até Setembro (Tempo Livre) e a última, chamada Tempo de Renascer. A programação vai durar de 20 de Janeiro a 21 de Dezembro, pelo que foi anunciado. O que é surpreendente.


O programa mostra ainda as linhas essenciais das várias áreas de programação. E da leitura dos documentos disponibilizados na sessão ficaram algumas ideias que aqui partilho. Reforço a noção de que o sector da Comunidade tem vindo a fazer um bom trabalho, envolvendo as populações das freguesias mais afastadas da cidade num projecto que é concelhio. E está a fazê-lo de uma forma transversal como foi possível ver pela apresentação do projecto Outra Voz que encerrou a sessão.


Depois do rocambolesco processo em torno do nome de Vargas Llosa, a área do pensamento parece descalça. Sem programador, sobram algumas ideias interessantes como a de recuperar as histórias dos Guimarães espalhados pelo mundo e o pensamento de vimaranenses extraordinários como Sarmento, Sampaio e Novais Teixeira. Mas é pouco para o grandiloquente discurso sobre a vontade de colocar Guimarães no centro da discussão dos grandes temas da Europa feito há um ano.


A área cidade é uma daquelas em que tenho mais dúvidas. Fico com a ideia que Tom Flemming pegou no seu modelo e o esticou sobre o território local, sem grande adesão à realidade vimaranense. A ver vamos. Sobre a programação Tempos Cruzados pensada pelas instituições culturais locais nada foi dito além de uma referência breve à sua existência. Aguardemos, pois.


Sobram as áreas artísticas. Onde as artes visuais apresentam umas dezenas de nomes como Pistoletto, mas onde estranho a ausência de referências ao Laboratório das Artes. A plataforma local tinha sido sempre tida como parceiro central do evento e, de repente, não se vislumbra a sua presença no programa.


Outra apreensão que tenho prende-se com a música e a criação da Fundação Orquestra Estúdio, uma estrutura profissional para jovens músicos. O nome pressupõe que adopte o modelo jurídico de uma Fundação, mas isso não foi explicado e levanta sérias dúvidas. Além disso, por muitos méritos que este projecto possa ter não vislumbro como possa Guimarães sustentá-lo para lá de 2012. Por outro lado, não foram apresentados projectos noutras áreas musicais que não a erudita ou clássica, para além de uma vaga referência a música pop e underground (?). Não era essa a CEC que se imaginava.


De positivo, destaco as ideias apresentadas nas áreas das artes performativas e do cinema e audiovisual. A ideia de criar uma plataforma de produção audiovisual em Guimarães entusiasma, os nomes apresentados e a promessa de produzir duas dezenas de filmes para e sobre Guimarães também.


No cinema temos nomes, projectos concretos e ideias para o futuro, abrindo as portas a novos protagonistas e chegando mais além do que a cidade. Mérito de João Lopes, que soube perceber Guimarães e rodear-se de gente que a conhece melhor do que ele. Há ali competência qb para se atingir o sucesso.


Não por acaso, a outra área que destaco pela positiva é a das artes performativas, liderada pelo homem da casa Marcos Barbosa, que já sabia o que queria para Guimarães antes de o terem contratado para o fazer. Por ali virá Peter Brook, chegará teatro às 69 freguesias e a palavra residência como peça central de tudo. E ficará também na cidade outra estrutura fundamental para o futuro da criação artística local com a criação do teatro estúdio.

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