A dupla vida da Capital Europeia da Cultura



Numa altura em que se ouvem publicamente os primeiros sinais de insatisfação ao pouco envolvimento e à falta de informação da comunidade sobre a componente cultural da CEC 2012, parece-me importante olhar para estes últimos três anos e reflectir sobre a forma como o processo foi evoluindo.

E olhando para trás, algo torna-se por demais evidente: a CEC nasceu em Novembro de 2006, por decisão do Conselho de Ministros, morreu a Novembro de 2007 com a entrega da candidatura na União Europeia e ressuscitou, não ao terceiro dia, mas 18 meses depois, com o anúncio oficial de Guimarães como Capital Europeia da Cultura 2012.

Mais do que tentar apurar responsabilidades sobre a letargia que contaminou a evolução da CEC e que se manifesta agora nos sinais de impaciência e insatisfação evidenciados no debate de há alguns dias na Sociedade Martins Sarmento, importa perceber que muito do trabalho que se iniciou em Julho de 2009, podia e devia estar já feito.

Disse Eduardo Lourenço, no Salão Nobre da SMS, que "Guimarães tem um tempo muito particular". Passe o abuso do aproveitamento de tais palavras, atrevo-me a dizer que, entre Dezembro de 2007 e Maio de 2009, o tempo parou em Guimarães. O Grupo Missão, que elaborou um ambicioso Documento de Candidatura, depois de vários meses de preparação e contacto com os mais variados agentes da cidade, retirou-se de cena. E com a sua extinção, o entusiasmo até aí gerado não foi devidamente potenciado. Tarefas importantes que dariam visibilidade e poderiam ajudar a manter o envolvimento dos cidadãos não foram realizadas. A publicação do Documento de Candidatura, por exemplo. A criação do logótipo. A implementação da marca "Guimarães 2012" nos eventos referência da cidade. O aproveitamento do Serviço Educativo do CCVF e a sua ligação já estabelecida com as escolas. Ao contrário do que seria expectável, na componente cultural da CEC investiu-se no sigilo e no silêncio.

Provavelmente existirão razões formais, estratégicas ou políticas para este comportamento. Como mencionei anteriormente, mais importante do que apurar responsabilidades, é contextualizar a evolução do processo e perceber que a origem da insatisfação não incide propriamente sobre o que não se fez nestes últimos 6 meses, mas sim sobre o que não se fez nos últimos 2 anos.

Partindo daqui, duma consciência colectiva de que podia ter sido feito mais por todos os actores até agora envolvidos no processo, parece-me mais fácil olharmos para este novo início com a Fundação Cidade de Guimarães e concentrarmo-nos no essencial: refocar o projecto na comunidade e aproveitar todos os recursos e pessoas disponíveis, para que o objectivo ambicioso das linhas orientadoras da Capital Europeia da Cultura, de transformar Guimarães, esteja mais próximo de se tornar realidade.

10 reacções:

Tiago Laranjeiro | 17:26

Ora seja bem-vindo, Rui!

Rui Silva | 17:30

Obrigado, Tiago.
É um prazer escrever nesta casa.

Samuel Silva | 19:04

Bem-vindo. Vou ler isto com a atenção que merece e já vamos à discussão.
Primeiro ponto: O gráfico ali um buraco negro curioso.

Paulo Lopes Silva | 19:13

Seja bem-vindo à Colina o seu novo inquilino!

Naquele buraco negro devem estar as questões procedimentais de definição e criação da Fundação, bem como a escolha da sua equipa, e o inicio das negociações da parte material, por parte da Câmara.

Abraço!

Rui Vítor Costa | 20:18

O problema é que a questão sempre foi, para quem governa, uma questão política, ou melhor dizendo uma questão partidária.
As recentes declarações do Presidente da CM de Guimarães afirmando que quem fosse contra o PO da CMG era contra a CEC é a mais brutal manifestação dessa partidarização.
O fenómeno é conhecido desde a nossa infância pelo síndroma de “a bola é minha”. Se te portares bem, não deres caneladas, não chateares, vais ter um lugar especial para aplaudir, vais fazer parte da fotografia. Caso contrário, não jogas.

Anónimo | 22:20

Ninguem fala do PS Guimarães dos ajustes directos?

http://bragamaldita.blogspot.com/2010/01/estamos-entregues-ao-ps-dos-ajustes.html#links

Samuel Silva | 11:41

Ò Paulo sabes muito bem que esse foi o tempo em que nada se quis mostrar. O Rui Vitor usa uma boa expressão. "A bola é minha" pareciam gritar os responsáveis municipais.

Lembras-te do debate que promovemos no Convívio? Só nos disseram que mais não podiam dizer. Quando Maribor e as duas cidades que serão CEC depois de nós já há muito divulgavam o seu trabalho.

Hoje mesmo, a maioria das pessoas ainda não conhece o documento de candidatura. Acho que isso espantaria mesmo Cristina Azevedo, de tal forma ela deu o facto como normal na sua intervenção no debate da SMS.

Mas não, a maioria das pessoas não conhece o documento de candidatura. E quem o conhece, como alguns de nós, fê-lo de forma não oficial. E isso, meus caros, não é, de forma nenhuma, responsabilidade da Fundação Cidade de Guimarães, porque esta entidade nem sequer existia.

O que vejo é só uma coisa: Em seis meses, a FCG mostrou-nos mais acerca dos seus propósitos, do que os responsáveis políticos locais num ano e meio.

JP | 14:34

A questão é tão simples como esta: se não tivésse ouvido dizer que Guimarães vai ser CEC2012, não acreditava. A menos de 2 anos do evento o que é que já foi feito? depois de muito reflectir a resposta é fácil... nada, foram lançados 5 projectos para Guimarães, que ainda não deram em nada será que algum dia vão dar? se sim já se está a ficar com pouco tempo para a sua execução, ou pretendem que aconteça o que aconteceu com a casa da musica, finalizada só depois de 2001...o projecto remodelação do Toural, do que vi é ainda pior que o original. Espero sinceramente estar bastante enganado, e espero precisamente o contrário, bem como deposito toda a confiança no actual presidente da câmara e seus «homens»...mas actualmente cheira-me que o CEC2012 não vai correr bem...

Rui Silva | 17:04

O que é preocupante é que aquele vazio explica um pouco o divórcio entre a primeira fase e a segunda da CEC.

As linhas orientadoras da nova CEC, como o Samuel já mencionou num post anterior, são algo diferentes das do documento de candidatura. A grande maioria dos eventos que continha não são sequer mencionados.

E como se isso não bastasse, os próprios responsáveis (Francisca Abreu e Cristina Azevedo) têm uma relação estritamente formal, o que subentende que a passagem de testemunho não foi pacífica.

Seria bom que no meio disto tudo, não fosse a cidade a sofrer as consequências.

Anónimo | 22:39

Maria Anadon arrasa no
café-concerto do Vila-Flor !
Sala a rebentar pelas costuras, com quase 1,5 h de concerto.
Simplesmente soberbo.