Autárquicas 2009: Os programas eleitorais – CDU

Há uma consideração que salta à vista assim que se começa a ler o programa eleitoral da CDU: O documento é excessivamente longo e dificilmente exequível. Propõe intervenção em áreas em que as câmaras estão de mãos atadas como a educação, a saúde e… a defesa dos serviços do Estado. Mas, ao longo das 32 páginas, há boas soluções. Desde logo na área dos transportes e da cultura, onde se assume como a força política mais consistente nestas matérias.


A CDU dá prioridade às políticas sociais. Nada que espante. O que surpreende é que as propostas sejam medidas avulsas sem uma visão abrangente do que deve ser uma acção social da câmara. As propostas urgentes são muito alargadas e algumas dificilmente enquadráveis num orçamento municipal, sob pena de o absorver na totalidade. Destaco duas ideias pertinentes, com a marca do PEV: a criação de hortas sociais e de zonas especiais de venda de produtos da terra nas feiras e mercados.


Na economia, a CDU repete a receita dos partidos da direita: isenções de taxas, agilização de licenciamentos, redução de impostos municipais. Mas tem propostas muito boas, como a criação de um roteiro turístico do concelho, a valorização da cultura castreja e a criação de uma carta das parais fluviais. Os comunistas querem ainda criar duas escolas superiores, uma dedicada à hotelaria e outra à música e artes de palco. O programa dá relevo ainda ao desporto, apresentando a ideia gira da criação dos Jogos de Guimarães.


Para a CDU a questão da mobilidade é central, como tem vindo a demonstrar nas intervenções políticas que tem tido. O partido defende a municipalização dos TUG. E tem propostas certas como o alargamento da rede e dos horários, a reorganização de trajectos, a articulação com eventos e horários de trabalho e a modernização da frota. Pode parecer que não diverge das propostas de BE e MRPP, mas a coligação contextualiza e sustenta melhor as ideias.


Tem também um projecto para a ferrovia, desde logo propondo o aumento da intervenção municipal nessa área e a utilização do troço interno ao concelho (Lordelo-Guimarães) para uma exploração autónoma e de proximidade. No meio das boas soluções, há três desatinos: a revitalização da linha até Fafe, a criação de uma rede de metro de superfície e a abolição das portagens na A11/A7 entre Serzedelo/Urgezes/Silvares.


Por fim a cultura, onde a CDU é a única força partidária que percebe que há vida para além da CEC. O programa define linhas centrais com as quais estou em total sintonia e que contrariam o que vem sendo feito por cá: O acesso generalizado das populações às actividades culturais, a valorização da função dos criadores e trabalhadores da área cultural e a defesa e estudo do património cultural local e regional.


As propostas vão nesse mesmo sentido, destacando-se ideias concretas como a criação do Conselho Municipal de Cultura, as escolas museus das Termas e Cutelaria (nas Taipas) e da Etonografia (S. Torcato), um parque arqueológico concelhio que abranja os sítios rupestres e castrejos, o centro interpretativo da batalha de São Mamede e o gabinete de arqueologia e histórica local.


O programa da CDU pode ser encontrado na íntegra no blogue do partido.

2 reacções:

Torcato Ribeiro | 03:24

Samuel,

Registo com agrado a apreciação que fizeste sobre o nosso programa eleitoral.
Sobre as nossas propostas que consideras desatinadas, permite-me um breve comentário:

1º Desatino

A CDU propõe, com o objectivo de incentivar a mobilidade e a coesão territorial do nosso concelho, a abolição da portagem da auto-estrada entre Serzedelo e Guimarães,à semelhança do modelo já adoptado na A1, entre o Porto e o nó dos Carvalhos, bem como entre Vila Franca de Xira e Lisboa.

2º Desatino

Alguma precipitação na interpretação da nossa proposta que aponta, apenas, para um Estudo da Introdução do Metro de Superfície.

3º Desatino

A destruição da linha de Fafe é que foi um grande desatino mas, como sabes, nós não tivemos qualquer responsabilidade nesta matéria.

Abraço

Samuel Silva | 11:06

Meu caro,

Desatino é capaz de ter sido uma palavra infeliz, assumo.

Quanto às portagens, entendo que a proposta nunca poderá passar disso por causa das concessionárias das AE's. Além disso, se no troço Silvares/Urgezes, a vossa ideia podia colher, no caso de Serzedelo parece-me que não. Sendo parte do concelho de Guimarães não se incluiu na área urbana.

É o caso de Braga. Entre Braga Sul (salvo erro, aquela que nós usamos na a11) e Braga Este (não sei se é assim que se chama, mas é a que se usa na zona de Cabreiros, na A11 em direcção a Barcelos de Esposande) também se paga portagem.

Quanto ao metro, não tenho nada contra a ideia do estudo. Faça-se, aliás e a CEC podia ter dado boleia a isso. O que acho é que Guimarães-cidade não tem dimensão para a coisa feita nesses moldes. Na área urbana, parece-me mais interessante a proposta de uma linha de elétricos (como Montepellier, por exemplo), que até acho que é um proposta CDU em Braga, se a memória não me engana.

Para a ligação às vilas só vejo como solução a linha férrea convencional. Como a CDU propõe para Lordelo e Moreira e eu entendo ser necessário às Taipas numa futura ligação a Braga. Um metro de superfície para ligações mais longas só cairá naquele problema da linha da Póvoa e, futuramente, da Louçã.

Quanto à ligação a Fafe. O erro não foi vosso. Foi mais um entendimento do Centrão, se bem conheço a história, que se revelou prejudicial às populações. Mas hoje já não faz sentido pensar na sua reactivação, pelo menos na sua extensão total. Primeiro porque Fafe não tem dimensão que o justifique (nunca teve, aquele era um ponto de passagem para fazer a linha chegar as Trás-os-Montes); Segundo porque a linha é longa e atravessa basicamente montes (portanto, não pode captar populações intermédias) e hoje Fafe está ligada a Guimarães por rodovia em 5 minutos (passe o exagero).

Quanto ao mais, o vosso programa, como se percebeu no artigo, é o que mais e melhor corresponde às minhas prioridades para o desenvolvimento do concelho. Esta da mobilidade é claramente uma delas.