Da ambição e do fracasso


Nem todos os partidos em Guimarães têm as mesmas ambições. E por isso é normal que chegados os períodos de eleições locais estes se dediquem a objectivos coincidentes com a capacidade de mobilização e facilidade de criação de alternativas e projectos para os diversos orgãos autárquicos. Assim o Partido Socialista, que detém a maioria na Assembleia Municipal, Câmara Municipal e número de freguesias em que preside à junta, é o único a apresentar alternativa de poder a todos eles.

A responsabilidade conferida pela confiança dos Vimaranenses de 4 em 4 anos a isso mesmo o obriga. Por seu lado, os restantes Partidos, e as suas secções de Guimarães acabam por focar-se em objectivos específicos, e onde sentem que têm capacidade para pelo menos apresentar uma alternativa. Por eles próprios ou em coligação. E se por um lado entendo as dificuldades de BE, PCP, MRPP e CDS em apresentarem-se a todas as freguesias da cidade, já me custa mais a aceitar a falta de ambição e/ou capacidade de o fazer por parte do partido que se apresenta como suposta alternativa de poder ao município: o PSD apresenta candidatura a apenas 57 freguesias, sendo que que apresenta ainda um conjunto de coligações noutras 8 e apoia oficialmente mais duas candidaturas independentes. Em Gonça e Rendufe é que não restam dúvidas à partida: alternativa de poder para aqueles lados não existe.

Apesar do líder da concelhia tentar desdramatizar dizendo que teria sido fácil apresentar listas nestas freguesias, não se percebe que não o tenha feito. Se era fácil e não o fizeram é das duas uma: falta de ambição ou comodismo. E nenhum delas me parece ser própria de um partido que pensa ser alternativa. Muito menos quando se trata do Partido que acredita nas opções de António Magalhães para a cidade, mas escolhe o caminho das descentralizações e da aposta nas freguesias. Não em todas, pelos vistos.

No fundo terei que perceber: o desgaste de 20 anos sem conhecer poder na Câmara Municipal, o desgaste dos intervenientes com as sucessivas derrotas, as constantes lutas internas e a tal falta de ambição de que já falei podem estar na origem da dificuldade em apresentarem-se como alternativa. Já que parecem ser incapazes de tentar levantar Guimarães pode estar na altura de voltarem a mudar de vida e traçarem definitivamente uma alternativa de poder séria.

19 reacções:

Pedro Morgado | 22:59

A falta de alternativas é uma doença da democracia e não deste ou daquele partido.

casimirosilva | 23:44

A qualidade da democracia passa muito, bem sabemos, pela qualidade dos que formam (ou integram) os partidos, ou não será?

Paulo Lopes Silva | 01:51

A democracia vimaranense é a mesma para o PS e PSD. E o Partido Socialista não encontrou qualquer dificuldade em encontrar alternativas. 69 alternativas nas freguesias, lista de assembleia municipal com valores seguros e alguns que serão certamente excelentes surpresas para quem não os conhece, e uma lista capaz para a Câmara Municipal para dar seguimento ao trabalho dos últimos 20 anos.

Mas, claro está, as alternativas em democracia surgem se as pessoas estiverem dispostas a integrar projectos. E aí a qualidade dos projectos deve fazer muita diferença na hora de aceitar participar nos mesmos.

Jose Manuel Antunes | 16:41

Meu caro Paulo,

Escuta um conselho de amigo.

Não fales do que não sabes.

José Manuel Antunes

Pedro Morgado | 01:21

Não há democracia sem alternativas. E uma democracia doente não gera oportunidades para a criação de alternativas.

Tiago Laranjeiro | 15:11

Paulo, tens uma curta noção de democracia... Pelo teu texto, suponho que apenas o PSD e o PS sejam alternativa um ao outro para as freguesias, autarquias e Governo, sendo os outros pouco mais que "adornos da festa". Não compreendo também essa de o PS, "que detém a maioria na Assembleia Municipal, Câmara Municipal e número de freguesias em que preside à junta" seja alternativa ao próprio poder...

Mas vamos ao que interessa neste artigo: o facto de o PSD não ter apresentado lista nem apoiado uma de independentes a duas Juntas de Freguesia, Gonça e Rendufe. Por não o ter feito, vens logo classificar os seus dirigentes e militantes como tendo falta de ambição ou comodismo.

A verdade é uma, o PSD não apresenta às eleições de 11 de Outubro candidatura a essas duas freguesias. Podes entender isso como um fracasso, eu entendo, infelizmente, como uma consequência dos 20 anos de poder socialista. Os que foram sondados dessas freguesias para serem candidatos não aceitaram o desafio. Muitas são as possíveis justificações para isso, desde a falta de implementação do partido nessas freguesias à falta de vontade das pessoas em aceitarem o desafia. Eu sei o esforço que se fez para que apresentássemos lista por lá. O PSD optou por não apresentar candidaturas fantasma, de gente que nada tem a ver com a freguesia a que se candidata. Teria sido fácil, sim, arranjar dois quaisquer militantes e pô-los à frente de candidaturas para essas freguesias, que provavelmente não conhecem. Não foi isso que fez, e bem. Foi isto que o Presidente da concelhia disse.

Para além do mais, contei-te já, em conversa particular que não cabe aqui descrever, casos de pessoas que se recusaram a integrar listas do PSD por recearem pelo seu posto de trabalho e pelo da sua família.

Estranho este teu artigo e o tom em que o escreves. Nele não criticas as ideias que este PSD tem para o concelho, nem o paradigma de desenvolvimento que propõe. Nele não criticas também a completa falta de novidade que Magalhães e o seu PS propõe aos vimaranenses, tendo apenas para apresentar mais do mesmo, como se Guimarães estivesse ainda no início dos anos 1980 e enfrentasse os mesmos problemas.

Paulo Lopes Silva | 15:21

Não tenho noção curta alguma de democracia. Digo que de facto o PSD não apresenta alternativa para estas freguesias. Algumas delas provavelmente continuarão a ser disputadas com outros partidos. E o Partido Socialista não adormecerá à espera de triunfos fáceis em nenhuma delas.

O PS é uma alternativa aos vimaranenses. O facto de estar no poder não deixa de levantar sempre novos desafios. E o facto de eu respeitar, ao contrário do que dizes, a noção de democracia, leva-me a dizer que o PS tem que ser uma das alternativas. De preferência a melhor alternativa.

O que te escapa do meu texto é o seu essencial está visto. Se dizes que o tom com que o escrevo é estranho e que não apresento críticas ao modelo defendido pelo PSD não o leste com alguma certeza com a atenção devida. A crítica essencial reside exactamente no facto de este partido defender uma autarquia que olhe pelos interesses das freguesias, e não se preocupe apenas com a cidade. Em contraponto, não apresenta candidatura a todas elas. Estranho não?

Sobre suspeições, teorias das conspiração, conselhos de amigo ou outros que tais deixo à livre vontade dos responsáveis para justificarem o fracasso de que falo.

Tiago Laranjeiro | 15:43

Não, Paulo. Como te tentei explicar, penso que foi até um acto de respeito aos eleitores dessas freguesias não apresentar candidaturas fantasma, apenas para dizer que os fez, com gente que nada tem a ver com a freguesia, como fazem ou fizeram outros partidos. Não é por isso que se deixará de dar atenção a essas freguesias. Nem é isso que indica que houve falta de interesse ou trabalho para ter candidatos nessas freguesias.

Suspeições ou teorias da conspiração? Não sei do que falas.

Paulo Lopes Silva | 16:45

Tiago,

numa junta de freguesia que até há um mandato atrás era dominada pelo PSD como é o caso de Gonça parece-me desculpa de mau pagador dizer que não quiseram apresentar um candidato fantasma. Falta de interesse ou de empenho? É que nenhuma das justificações apresentadas por ti me convencem neste caso específico. Logo mantenho estas duas. Podiam por exemplo ir falar com o Sr. Machado e perguntar se dos anos que ele lá passou como presidente da Junta não criou condições à sua volta para garantir sucessão.

Se calhar não apresentar lista do PSD nesta freguesia, é de facto um acto de respeito para com os cidadãos de Gonça.

Hugo Monteiro | 18:12

"Podiam por exemplo ir falar com o Sr. Machado e perguntar se dos anos que ele lá passou como presidente da Junta não criou condições à sua volta para garantir sucessão."

Sucessão? Costela monárquica?

Paulo Lopes Silva | 18:16

Óbvio que não Hugo. Quando se está no poder existem pessoas que rodeiam o líder. E portanto que passam a conhecer os cantos à casa e a ver como funcionam as coisas. E se o trabalho for bom, o povo há-de reconhecer o mérito de uma equipa por trás de um homem....

Hugo Monteiro | 18:38

E se ninguém tiver essa preparação, vai na mesma? Toda esta forma de pensar causa-me muita apreensão. Apresentar candidatos só para encher descredibiliza todo o processo democrático. Até parece que têm de se meter na política para marcar o ponto.

Quanto ao caso dos independentes, acho muito bem. Tem de haver algum sítio onde os partidos políticos não metam o bedelho. A sociedade civil tem de tomar a iniciativa, de vez em quando, para que não fique a ver o comboio passar.

Paulo Lopes Silva | 18:50

Hugo, supostamente em tantos anos à frente da junta de que falamos algum trabalho devia ter ficado na memória das pessoas. E elas saberiam valorizar quanto mais não fosse o partido que fez aquele trabalho. mas a questão aqui é que esse presidente da junta até perdeu... Portanto não estamos a falar de qualquer tipo de sucessão.

Hugo Monteiro | 19:11

"E elas saberiam valorizar quanto mais não fosse o partido que fez aquele trabalho."

Parece-me estranho. Agora há partidos sem pessoas? O PSD da MFL é igual ao do Cavaco ou ao do PSL? O PS do Sócrates é igual ao do Guterres ou do Mário Soares. Não existem legados imateriais se as pessoas não pensarem dessa forma.

A monarquia funcionava dessa forma: como o chefe era o "melhor" a sua descendência ia produzir a melhor sucessão, o que deveria beneficiar a comunidade. Depois começaram a acasalar primos e o caraças e deu no que deu.

Estou a ver que essa linha de raciocínio persiste.

Paulo Lopes Silva | 19:16

Sabes que as juntas no seu órgão executivo não têm apenas presidente não sabes? E sabes que o trabalho não se fica apenas por este não sabes? Então partindo deste pressuposto deveria estar a ser mais fácil perceberes que quando um homem é presidente de uma junta de freguesia durante tantos anos como aconteceu em Gonça, se o trabalho estiver a ser bem feito, e para além de bom trabalho visivel, existir uma boa equipa por trás deste trabalho, quando esta pessoa deixar de ser presidente haverá uma estrutura montada para que se possa substituir a pessoa eficazmente e voltar a submeter o projecto à votação da população.

E reforço: neste caso nem vale a pena estar a tentar explicar como deveria funcionar o bom exemplo. Porque o homem do PSD que geriu os destinos da freguesia durante muitos anos, perdeu. Logo as pessoas desacreditaram em todo o projecto.

Pedro Fontes | 21:10

Bom não é só por comungarmos a mesma ideologia politica que subscrevo em completo este teu texto, Paulo. Sem dúvida que quando um presidente está no poder, deve, ou melhor, tem como missão, deixar um legado para o suceder. Rejuvenescendo as suas listas. Procurando e incentivando a entrada de jovens com valor, ou procurando gente que queira abraçar o projecto. É desta forma que, ganhando ou não, se vai criando uma boa base de trabalho para o futuro. No pólo oposto, a oposição deve fazer o trabalho de fiscalizar a cada esquina, tudo que se faz numa dada freguesia, e aos poucos ir pensando numa futura equipa.
Se assim fosse, o PSD não teria a mínima dificuldade em apresentar 69 candidatos.
Tenho dito.

Pedro Fontes

Paulo Lopes Silva | 02:07

Na minha forma de ver a organização de um partido e a forma como deve trabalhar, penso que estamos 100% de acordo. Desta forma que descreves qualquer partido poderia ter uma palavra a dizer na sua freguesia.

Em cheio, Pedro!

Paulo Lopes Silva | 02:48

onde se lê na sua freguesia, leia-se em qualquer freguesia.

Anónimo | 12:03

Paulo independentemente de clubite que por vezes afecta um pouco a racionalidade dos nossos valores de base democráticos, o que fica como objecto de reflexão é exactamente o que escreves. Sendo por que motivos forem: falta de condições criadas por anteriores executivos, derrotas antecipadas, falta de uma alternativa credivel (fantasmas?!) ou até como refere o P.Morgado por "doença democrática" a verdade é que num partido como o PSD, não se constituir alternativa revele claramente falta de ambição e de quadros á altura dos desafios. Não vejo outra justificação por muito que se possa agora apresentar situações concretas e casos particulares. Apenas considero que há 2 casos em que realmente tal poderia acontecer e penso que sabem quais são. Aí sim perceberia. De resto não faz para mim qualquer sentido a não ser exactamente pelas razões que aponto.