Desacerto na comunicação

Além das discussões políticas, nas campanhas eleitorais interessam-me as estratégias de comunicação dos partidos. Esta semana, Guimarães viu surgir o segundo cartaz do PSD para as autárquicas.

Se o primeiro cartaz da campanha era já desajeitado, dando azo a que fosse interpretado como um elogio à maioria, surpreende-me, desta feita, um certo desacerto ideológico. Acho mesmo curioso que seja utilizada uma frase que mais facilmente associámos à esquerda.

"Mudar de Vida" é, por exemplo, o título de um jornal popular, dirigido por José Mário Branco, e que está bem nos antípodas da ideologia do PSD. A linha de campanha do PCP gira também, nos últimos anos, à volta do mesmo conceito (será Paredes a explicação?), e lembro-me de ver a versão dos Humanos da múscia de Variações com o mesmo nome ser entoada numa sessão de encerramento da Festa do Avante há três ou quatro anos.

Não sei de que forma a mensagem está a passar junto da população (até porque ainda é cedo), mas do ponto de vista comunicacional parece-me que o PSD vai pelo caminho errado.

6 reacções:

Rui Silva | 18:24

Concordo contigo. Até porque parece desajustada a associação da expressão "Mudar de Vida" colada à fotografia do candidato. Faria mais sentido um "Mudar de Rumo". Assim, mais parece uma promoção às Novas Oportunidades.

Tiago Laranjeiro | 19:27

Parece-me errada esta tua leitura, Samuel. Se calhar, e erradamente, associa-se mais facilmente um discurso de mudança à esquerda que às forças de centro ou centro-direita. No entanto, o mote "Mudar de vida" não é, nem nunca foi, exclusivo da esquerda. Repara que é esse mesmo o título do excelente livro que Marques Mendes lançou no ano passado, com as suas ideias para o país...

Paulo Lopes Silva | 19:58

A questão é a associação não é feita ao de leve. É um facto que a Coligação Democrática Unitária, constituida por dois partidos de esquerda, usou ao longo dos últimos anos a palavra Mudar e em grande parte dos slogans e acções de campanha.

Por outro lado também não me parece que seja errado associar mais facilmente a mudança à esquerda. Mais liberal, aberta à mudança e mais progressista. é uma questão de valores.

Tiago Laranjeiro | 00:10

Pah, pensarmos uma palavra da língua portuguesa - de um verbo, ainda por cima - como monopólio de um partido ou de uma corrente ideológica parece-me absurdo.

Samuel Silva | 02:36

Não se trata de assumir que a mudança é da esquerda. Nem sequer de haver propriedade sobre um termo.

A questão não está no verbo mudar. Está na expressão "Mudar de vida". Usada pelo José Mário Branco, apoiante bloquista, num jornal de conteúdo claramente extremista. E usada pela CDU na pré-campanha das Legislativas últimas, salvo erro.

Em comunicação, os slogans apelam ao esquema mental do público, evocando referentes reconhecidos. O referente que o PSD convocou, no meu caso, está claramente associado à esquerda, por uma questão histórica. Suspeito que aconteça o mesmo com muita gente, como o Rui, ou o Paulo, por exemplo.

Para uma mensagem passar eficazmente não se pode prestar a este tipo de ambiguidades, é esse o ponto essencial.

Tiago Laranjeiro | 09:42

Ok. Discordo de ti, até porque nunca associei a expressão a José Mário Branco, artista que nunca acompanhei. No entanto, como te disse, o próprio Marques Mendes lançou um livro com esse título.

Seja como for, é conhecida a simpatia de Vítor Ferreira, candidato independente à Câmara Municipal de Guimarães pelo PSD, pela esquerda.