Think Pong: Basta colocar-nos no mapa?

Ao fim de três anos de existência, o papel do Centro Cultural de Vila Flor continua a merecer discussão entre os vimaranenses. Sendo certo que não é um projecto perfeito, o CCVF tem colocado Guimarães entre os principais palcos de cultura do Norte ao longo deste tempo.

O ano de 2008 está a ser particularmente intenso. Uma espécie de ano de afirmação, em que os responsáveis parecem ter sabido encaixar críticas e alargar a oferta. Os espectáculos que já passarem pelo CCVF e o reforço do serviço educativo parecem-me começar a justificar o investimento municipal ali feito. Mas falta mais, porque ao Vila Flor não basta ser uma das principais salas de espectáculos nacionais, é preciso também ter implantação na sua cidade e no seu concelho.

O centro cultural tem mostrado este ano que tem um caminho bem definido e um projecto traçado. A música continua a levar muita gente àquele espaço, as à World Musica e ao Jazz que já faziam parte da oferta habitual, juntaram-se apostas na música portuguesa e no indie rock (no excelente Manta) que asseguram uma diversificação de públicos.

E depois houve duas apostas certeiras. No teatro, a acompanhar o esforço de profissionalização e solidificação do Teatro Oficina a que Guimarães tem dedicado um estranho esquecimento. E também na dança contemporânea. O Vila Flor soube interpretar o mercado e apostar num nicho que o Porto tinha deixado escapar depois da “privatização” do Rivoli.

Há um caminho, portanto. E há visão. De resto, o Theatro Circo tantas vezes apontado como exemplo a seguir pelo CCVF, entrou em crise, provocada entre outras coisas pela falta de consciência do que deve ser a gestão de um espaço destas características. O Vila Flor está de pedra e cal, com menos recursos, mas uma melhor gestão.

Mas não são perfeitos os dias que correm no centro cultural vimaranense. Às muitas críticas que a sociedade civil local vai fazendo, junto também as minhas. A começar pelo modelo de exploração do café-concerto, nunca resolvido, e que converte um dos potenciais espaços-nobres do centro cultural numa estranha miscelânea que o torna um palco pouco apelativo para público e artistas.

O CCVF tem dificuldades em “vender-se”. É incompreensível que os órgãos de comunicação social especializados dêem tão pouca atenção ao centro cultural vimaranense. E o Vila Flor vende-se mal por excesso de pudor. Bastava “vender” um qualquer micro festival a alguém bem colocado para estar nos jornais e revistas da especialidade.

Outro ponto fraco é a parca ligação com Guimarães, que é, de resto, admitida pelos seus responsáveis. O festival Manta, nos moldes de 2007, parecia inverter essa tendência. Mas até esse se foi. E hoje são poucos os espectáculos que levam os vimaranenses aos auditórios ou a galeria do palácio. Para a grande maioria da população, o que acontece em Vila Flor passa ao lado e é necessário encontrar novos motivos para levar gente ao CCVF (sem baixar a qualidade, nem entrar no delírio de colocar todas as associações locais em cima daquela palco). Podia passar por levar lá artistas vimaranenses. Mas, exceptuando nas artes plásticas, temo-los em qualidade e quantidade?

Nota: excepcionalmente, o Think Pong é publicado esta semana à terça-feira, devido a compromissos pessoais.
Do outro lado: Parabéns em evolução.

6 reacções:

Tiago Laranjeiro | 00:10

Caro Samuel,

Concordo com quase tudo o que dizes. Mas penso que precisamos de mais, que Guimarães precisa de mais para se afirmar para 2012. É a falha na comunicação (que é sem dúvida um grande problema), é a falha na música clássica, é o não se saber com que contar na sua programação. Não se perderia em programar num prazo mais longo e por ciclos, como já defendi noutro lugar.

E depois a concentração absoluta da actividade cultural apoiada pela Câmara no CCVF não me parece benéfica para uma cidade que vai ser CEC.

Samuel Silva | 11:36

Tiago,

O que é curioso e grave em relação à CEC é que, quase em 2009, o CCVF não conheça ainda o projecto. Por outras palavras: a principal estrutura cultural de Guimarães sabe tanto como nós.

Quanto à concentração de actividade apoiada pela Câmara, embora concordando com a crítica de fundo, veio-me à cabeça um corajoso projecto para um centro de artes privado que não demorou muito a cair em desgraça. Estaremos assim tão habituados à mão camrária na cultura?

Anónimo | 01:28

O São Mamede irá renascer em breve, sem ajuda camarária, estão já agendados bons concertos até ao final do ano na área pop/electrónica. Para o próximo pode contar com uma excelente surpresa na área do rock alternativo.
Saudemos então esse regresso.
Parabéns pelo blog.

Livraria 100ª Página CAE São Mamede

Samuel Silva | 11:58

São excelentes notícias, caríssimos. Guimarães precisa de um São Mamede forte, que se assuma como alternativa cultural.

Fico a aguardar as novidades.

Unknown | 17:00

Caro Samuel,
Deixo-lhe a agenda do São Mamede para Outubro:
4 - Fragmentos
8 - Duo Pagú + Alex + Budda
10 - Bombazines (nova banda do ex-vocalista dos Zen)
11 - valter hugo mãe (apresentação do livro Apocalipse dos Trabalhadores)
11 - Mostra de Livros (a decorrer até dia 19)
16 - Estilhaços (Adolfo Luxúria Canibal + António Rafael)
17 - On the Road (Tiago Gomes + Tó Trips + Raquel Castro)
25 - Jazznova feat. Clara Hill

Cumprimentos,
Livraria 100ª Página São Mamede

Samuel Silva | 17:51

São, como já disse, boas notícias. Esperemos voltar a ter o São Mamede que se apresentou a Guimarães no ano passado.

Tenho muita expectativa com Bombazines. Além de recuperarem os Zen, têm a voz da lindíssima Marta Ren.
valter hugo mãe é um dos maiores escritores nacionais e Apocalipse dos Trabalhadores um dos livros do ano. E nomes como Adolfo Luxúria Canibal, António Rafael e Tó Trips só podem significar qualidade.
Quanto a Jazzanova, são m bom projecto. Só é pena que nesse dia esteja no Porto uma das minhas bandas favoritas.