O triunfo de uma escola. A falência de um clube.
Em dois dias, três "produtos" do futebol de formação do Vitória resolveram duas grandes "embrulhadas" para as cores nacionais. Anteontem, Pelé e Targino deram o triunfo aos sub-21 frente ao Montenegro. Ontem, um golo de Makukula - marcado com as chuteiras de Fernando Meira calçadas - abriu o caminho a uma sofrida vitória sobre o Cazaquistão. Além do ponta-de-lança do Marítimo e do capitão do Estugarda, no banco da Selecção AA estava outro ex-vitoriano, Duda, extremo do Sevilha.
Em comum, os três goleadores da jornada de selecções têm a passagem pela formação do Vitória, ainda que cada um numa circunstância bem distinta. Em comum têm também que pouco ou nada deram de relevante à equipa principal do Vitória: Pelé foi vendido ao fim de dezena e meia de jogos por uma verba miserável; Targino demora em impor-se; Makukula saiu antes de ter idade sénior – tal como Duda, de resto.
Os golos dos miúdos e do gigante provam, uma vez mais, que a escola vitoriana é um das mais importantes a nível nacional. Em termos de resultados de formação (jogadores nas selecções e em grandes campeonatos) é a melhor que há em Portugal a seguir às dos grandes. À custa da visão de Pimenta Machado – na primeira metade do consulado foi o melhor presidente do Vitória, o pior veio depois – e dos apoios que a sociedade civil vimaranense e a autarquia, em particular, concederam ao clube.
No entanto, o Vitória não soube, ao longo dos últimos 10 anos, rentabilizar essa aposta. Os "homens da casa" teimam em não se impor nos séniores. Além disso, apenas Fernando Meira saiu de Guimarães por uma verba realmente condizente com o seu valor – embora ainda se esteja por perceber parte do rumo do dinheiro. E mais nenhum futebolista da fábrica vitoriana saiu num bom negócio. E isso é um dos factores que pode ajudar a explicar que o Vitória seja hoje um clube com um passivo brutal e que, se as coisas não tivessem ganho novo rumo, caminhava para o abismo.
5 reacções:
ainda estava o Vieirinha no banco dos sub-21
Estava a titular até. E Foi mais um caso de talento não aproveitado. Foi trocado por um tal de Rafael que a coisa mais memorável que fez no Vitória foi dado um soco ao Joao Pereira...
Efectivamente o Vitória não soube e parece que continua sem saber aproveitar os produtos das suas camadas jovens, ainda que, no caso e Makukula não o veja como um jogar formado no nosso Vitória, mas mais no outro. Além disso, os contornos da saída do jogador que renegou Portugal, para jogar pelo Congo (só não o concretizou porque a FIFA não o permitiu), teve muito mais a ver com as habituais responsabilidades dos empresários do que propriamente da gestão da altura. E tivemos alguns exemplos também de jogadores que saíram também do mesmo modo e cujo sucesso é zero. Agostinho ou Vitor Lima, são apenas 2 exemplos.
Quanto ao caso de Vierinha e também Marcio Sousa, ainda que ande desaparecido por factores que ao que parece se prenderão mais com a sua personalidade do que com a sua qualidade, mais vale nem recordar, de tão mau que foi o negócio.
Pelo menos caminho, vai o negócio Pelé, embora este com a concordância de Cajuda. No entanto, caberá ao clube que o forma, ensiná-lo a descer à terra e deixar de pensar como uma estrela em vez de o vender ao desbarato.
Já agora, fico à espera daquilo que vai render Geromel. Não sendo um produto das nossas escolas, assumiu notabilidade aqui e, pelo jogador que se tornou, terá necessariamento de render mais do que aquilo que rendeu Meira... embora pela amostra do negócio de Pelé e Rabiola não acredite...
Eu tenho uma prespectiva muito particular das saídas de Makukula, Vitor Lima, Bruno Tiago, Duda, Agostinho e, em última análise, Meira. Apesar de terem saído em litígio com o Vitória (o que do ponto de vista de um vitoriano é condenável. ponto final), os jogadores foram meras peças numa situação particular cujo principal culpado era Pimenta Machado.
Pimenta habituou-se nos idos de 80 a controlar as vontades dos jogadores funcionando muitas vezes ele próprio como "empresário" deles, numa altura em que o mercado como hoje o conhecemos ainda nao existia.
Nos anos 90, especialmente na segnda metade, os empresários passaram a comandar o futebol (e o marcado liberalizou-se por causa do acrodao Bosman) e o presidente do Vitoria nunca conviveu bem com isso. Não percebeu que já nao podia impor aos jogadores vencimentos abaixo da suas potencialidades (foi o que se passou com o trio que rumou ao Salamanca e também com Duda), já que a qualquer momento os miúdos podiam ganhar num qualquer clube estrageiro bem mais do que ganhavam num dos grandes nacionais (até o Sporting perdeu Caneira, Alhandra e Paulo Costa nesse tempo...).
A verdade é que Pimenta não se adaptou. Talvez fruto disso, deixou de valorizar a formação como até aí e desbaratou algumas pérolas como o Márcio e o Vieirinha, a troco de pseudo-craques para a equipa principal.
O que eu afirmo é que a aposta nos jovens deixa de ser despesa se for rentabilizada. E num clube em dificuldades financeiras, está bom de ver, que se as vendas destes craques tivessem sido produtivas.
O que mais me assusta é que Pimenta tenha ido embora e o problema seja o mesmo (do ponto de vista financeiro é mesmo pior). E as recentes vendas de Pele e Rabiola são mais dois tiros no pé...
Quanto ao Geromel receio bem que o Vitória o vá perder já em Dezembro (acho que os vitorians já se estão a conformar com a ideia). E, ainda que o que se vai pedindo entre os adeptos sejam valores algo absurdos (só o Real Madrid paga balurdios por um central, de resto são jogadores "baratos"), temo que o Geromel vá sair, tal como os anteriores colegas, por "30 contos e um bolo de arroz", como diz um amigo meu. E assim, não há finanças que se endireitem, nem resultados desportivos...
(desculpem a extensão do comentario)
Mais do que apenas culpa de uma gestão (danosa, pois então), um dos grandes problemas foi o futebol mundial não ter também criado mecanismos protectores em relação ao clube formador.
Estes, em muitos casos, vêem-se praticamente impedidos por causa do aparecimento de abutres como alguns empresários, de tentar segurar os seus jovens, isto porque muitos deles influenciados pelas famílias como o caso recente de Semedo, apenas conseguem ver dinheiro à frente dos olhos. Mas quando capitães de equipa como Meira dão o exemplo que este deu... não espantará que muitos putos lhe queiram seguir o rasto.
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