Eu não nasci numa cidade evoluída

Se há prazer que tenho na vida é o de ir ao cinema. Apaixonado pela Sétima Arte e cada vez mais cinéfilo – muito por influência do excelente trabalho do Cineclube de Guimarães a quem não nego vénias continuadas –, raramente perco uma oportunidade de ver um bom filme.

Desde miúdo que me habituei a aproveitar o Verão para desfrutar desse prazer na mais bela praça do país. E já lá vão 19 anos de Cinema em Noites de Verão, com uma programação mais forte e eclética a cada ano que passa.

Entre os filmes a que este ano assisti, re-re-revi Little Miss Sunshine e, ainda ontem, Por Àgua Abaixo (fã de animação me confesso…), entre outros belíssimas películas.

E foi ao assistir a esses filmes que observei dois fenómenos que atestam como

Guimarães está a léguas de ser a cidade evoluída, aberta e liberal que alguns de nós vão idealizando.

Uma das (brilhantes) personagens de Little Misse Sunshine é um deprimido professor homossexual. Assim que esta condição é desvendada num dos diálogos iniciais do filme, uma boa parte da assistência levantou-se e abandonou o Largo da Oliveira.

Uma semana depois, ainda antes da sessão, um casal jovem, de estilo alternativo – algo entre hippie e punk – cruzou a Oliveira e um coro de (ridículo) riso correu a praça, com a mesma velocidade que me enchia de envergonhada raiva.

3 reacções:

Anónimo | 21:49

Permita-me que faça um reparo. O problema não é desta cidade, mas sim deste país. O que falta, e muito, é educação.

Anónimo | 16:42

Pertinente.
Essa mentalidade de Guimarães, tacanha, pequena, não é de agora. É de sempre. Que não haja ilusões, mesmo entre os que programam os filmes pensando que a cidade só tem público instruído.
Há uma atitude interessante, em Guimarães como no país, de um certo tipo de pessoas, sem pingo de sensiabilidade, que faz questão de deixar claro, perante todos, quando não gostam de filmes, de música, etc, soltando grunhidos muito in, nada de acordo com as vestimentas última moda.
Guimarães não é, de facto, uma cidade evoluída.

Jota

José Manuel (Nelo) | 19:10

O problema não é de evolução, ou de sermos ou não evoluídos. Evoluir, evoluímos todos, mas nem sempre no mesmo e no melhor sentido, e com as melhores aptidões e capacidades.

Trata-se de educação e de preconceito. E não sejamos ingénuos. Em Portugal, todos temos pouco dela e muito dele.

Quem tem a oportunidade de contactar com o mundo lá fora - por exemplo, aquela parte da europa das sociedades e comportamentos liberais - ganha um bocadinho mais de educação, e de respeito pelas diferenças, mesmo de conduta e de comportamento.

Mas, mesmo naqueles que não regressam ao ninho luso, o preconceito permanece, pelo que pude verificar num bom punhado de gente da minha geração.