Tostões e Milhões

Sempre fui contra o voluntariado em grandes eventos. E quando falo em grandes eventos, quero explicitamente dizer eventos com grandes orçamentos. Sempre me fez confusão a ideia de que se poderiam gastar milhares em meia-dúzia de pessoas e acontecimentos que eram ao mesmo tempo alicerçados nas costas de dezenas de jovens voluntários, ingénuos e optimistas na ideia de que estariam a fazer algo útil.

Ao ler o regulamento do Pop-Up para a Guimarães 2012 preocupa-me ainda mais a ideia de que a «exploração» tenha outros níveis, e que os artistas convidados a intervir no espaço público durante 2012 tenham como linha-orientadora do concurso a noção de que "não há dinheiro". Não há um tema forte, não existe ainda um mapa de locais onde se pode intervir (e que podem alterar radicalmente qualquer projecto), há acima de tudo uma orientação chave: "não há dinheiro".

Começo a duvidar se somos a Capital Europeia da Cultura se a Capital Financeira da Cultura tal o ênfase (em algumas áreas) na tónica do dinheiro. É ler o projecto inicial de candidatura e pensar que das duas uma: ou a cultura se tornou um negócio, ou o projecto inicial de candidatura se tornou uma daquelas fábulas bonitas que nos contam ao deitar quando somos crianças.

2 reacções:

Anónimo | 03:46

Eu até ía mandar um projecto, mas com o "roubo" de ideias que por lá se passa tenho medo de que ponham um palhaço contratado "mais barato" a executar a minha ideia. Depois, era como o outro, diziam-me que o projecto não era bem como o meu, tem umas diferençazinhas e por isso xauzinho.

catarina wheelhouse | 23:00

Um texto que diz tudo, obrigada.
De facto, tive conhecimento de que os financiamentos para os projectos são de um valor irrisório...
Assusta-me pensar que chumbem projectos que acabam depois por concretizar.
Proteger as ideias através da SPA não está ao alcance de qq um...
Qual a alternativa?
Que medo!