É Guimarães que está em jogo
De que falamos quando falmos de Guimarães? De um centro histórico recuperado através de um processo unanimemente reconhecido. De uma cidade que se orgulha desse património, das suas festas e da sua história. De desporto, especialmente do Vitória. Hoje falamos também de Cultura, por via de uma tradição que não foi inventada pelos poderes políticos, mas que teve o mérito de ser potenciada por acção municipal, com particular relevo nacional desde que o CCVF foi inaugurado.
Esta dimensão vai acentuar-se nos próximos anos. Porque calhou de Guimarães ser Capital Europeia da Cultura em 2012 (não sou eu que o digo, é o presidente da Câmara , que esta semana afirmou que "não pediu para ter esta responsabilidade"). Mas muito do que é a imagem externa da cidade, em Portugal e no Mundo, vai depender da forma como a CEC correr.
Já está a acontecer assim. Há cada vez mais olhos postos sobre nós. Especialmente desde que começaram a ser noticiados os problemas na organização do evento das nossas vidas. Dos salários chorudos e profusamente criticados, aos estatutos adjudicados por ajuste directo e por uma verba ainda inexplicada, passando pela incapacidade comunicativa que afecta a estrutura da FCG. São problemas que o país discute e que têm, obviamente, o nome de Guimarães associado.
À opinião pública nacional não chega a mensagem de que esta Capital está a ser feita por forasteiros. É Guimarães que está em jogo. É a credibilidade merecidamente conquista pela cidade ao longo dos últimos anos que sofre um rombo de cada vez que uma destas informações vem a público. E é isso que os responsáveis políticos tardam em perceber.
Por excesso de confiança ou incompetência, os estatutos da FCG foram aprovados. Por unanimidade. E blindam a instituição de tal modo ao escrutínio público que deixam pouca margem de intervenção política ao governo ou à autarquia. Mas se vemos o governo empenhado em intervir numa instituição que financia - e que manifestamente não funcina bem - temos assistido a uma curiosa proximidade de posições entre a liderança da FCG e o presidente da Câmara de Guimarães.
O autarca defende com unhas e dentes a líder da FCG. Como se a escolha tivesse sido sua. Em troca de um biscate na preparação de candidaturas a fundos comunitários. Reconhece-lhe competências de burocrata. Como se essas fossem esssenciais em alguém que lidera um evento cultural. É de Cultura que falamos, acima de tudo, quando se fala de uma CEC.
Enquanto isso, o país vai tomando o hábito de olhar para Guimarães como a cidade que tem uma oportunidade única nas mãos e está a preparar-se para deixá-la escapar. Com os políticos, está visto, que dificilmente podemos contar. Podem os cidadãos ir a tempo de evitar uma catástrofe destas?
post scriputm: Ao contrário do que afirma o presidente da Câmara, a líder da CEC não foi escolhida pelo Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães. A presidente da FCG foi apresentada como titular do cargo a 14 de Julho e, meses antes, já era anuncaida como líder da CEC. O CG reuniu pela primeira vez a 10 de Outubro. Um lapso de memória, com certeza.
2 reacções:
Estou certo de que Guimarães vai continuar a ser referência. Mas, obviamente, também me preocupo com uma imagem que não era nada habitual.
Cá para mim, o Dr. Magalhães está com um grave problema de percepção da realidade. Deve precisar dos serviços da Multiópticas ou da Casa Sonotone. Parece que é ele o único que não vê, nem ouve, o que se passa em volta: o barco, a meter água por todos os lados, vai a afundar-se. Mas ele grita, quase em desvairamento, não há timoneiro como a Cristina Azevedo, ignorando os que lhe dizem que a senhora a quem confiou o timão não distingue bombordo de estibordo.
Há quem diga que o poder inebria. Há também quem diga que o poder cansa. Eu digo que há que olhar para o rótulo e verificar o prazo de validade. Pelos vistos, António Magalhães ainda não percebeu que está fora de prazo já está a desbaratar, com a sua teimosia cega e surda, o prestígio da obra feita ao longo de tantos anos.
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