Sobre a última Assembleia Municipal

O PSD repetiu três vezes a expressão “fim de ciclo” na última Assembleia Municipal. O único ciclo que vimos terminar nessa sessão foi o da sanidade. Com exemplos democráticos como os da última noite, o regime não pode ter orgulho em celebrar-se na próxima terça-feira.

O presidente de Câmara disse isto, chamou “fininho” ao líder da bancada parlamentar do maior partido da oposição e pôs em causa a saúde mental de um homem com quem colaborou durante 20 anos. Só precisou de 20 minutos de intervenção para ter todas estas tiradas absolutamente inqualificáveis.

Com exemplos como este, não fica fácil criticar a boçalidade de alguns comentários ouvidos nas bancadas, especialmente nas suas últimas filas. Mas não deixam de ser mais um ingrediente numa noite negra, onde só houve uma proposta concreta para o maior drama que o concelho vive e aquele que mais interessa combate, o desemprego.

Aliás, neste ponto concreto, o PS local parece cada vez cada vez mais o nacional. Sócrates vende a ideia de um país moderno e negou, até quarta-feira, que estivéssemos a afundar-nos do ponto de vista financeiro. Os socialistas vimaranenses acenam com a CEC, o AvePark, a reconversão da economia regional, direccionando-a para o conhecimento e a cultura. Quem não conhecer a realidade, pensará que este é um concelho onde se vive acima da média nacional.

É óbvio que isso será importante a médio prazo, o PS tem razão e o mérito de nos ter posto nesse caminho. Mas o problema do desemprego é no presente e é gravíssimo. De resto, este é um dos concelhos do país onde a questão é mais dramática. É hoje que se passa fome de novo no nosso concelho e em que apenas intervenções caritativas e alguns “pensos rápidos” impedem que estejamos perto de uma revolta social. “Há uma estabilidade social”, disse o presidente da Câmara. Com 15 por cento da população activa desempregada, a única coisa estável é mesmo a falta de recursos para uma vida melhor que afecta para cima de 80 mil pessoas.

Disse também Magalhães que o desemprego é estrutural. Uma explicação de Direita dirá Krugman. Culpa também dos políticos, acrescento. Porque a crise do vale do Ave é uma crise de inacção e de incapacidade de antecipação de problemas.

Mas também o PSD desiludiu. Andou duas semanas a agitar a tal incapacidade da Câmara de fazer alguma coisa pelo emprego. Pensava-se que uma assembleia municipal seria o momento ideal para apresentar propostas concretas acerca do papel da autarquia no combate ao desemprego. César Teixeira, o novo líder, repescou as polémicas dos últimos meses, irritou Magalhães e Bragança, mas fez pouco mais do que isso.

Sobre desemprego, nem uma propostas e apenas considerações já conhecidas. A única proposta sobre o tema foi apresentada por Tiago Laranjeiro, membro deste blog, que propôs a criação de um Gabinete de Apoio ao Empreendedor. Sem discutir os méritos da proposta, é curto para um partido que tem feito deste tema uma bandeira da sua intervenção.

Post scriptum – O presidente da Câmara classificou como “panegírico habitual” a intervenção do deputado socialistas Miguel Oliveira acerca da actividade da Câmara. Com amigos destes…

12 reacções:

luis cirilo | 00:36

Estive 12 anos na assembleia municipal entre 1989 e 2001.
Depois estive ausente,como deputado,durante oito.
Embora fosse assistir com alguma frequencias as sessoes.
Regressei em 2009.
Confesso,com alguma tristeza,que pese embora alguns jovens talentosos deputados entretanto aparecidos o nivel esta pior.
Quer das intervençoes quer do inaceitavel comportamentos das ultimas filas das bancadas.
Sem sectarismo com grande quota de responsabilidade do PS.
E existe ,de facto,algum clima de fim de ciclo.
Perceptivel na falta de paciencia de Antonio Magalhaes, na ansia de mostrar serviço de Domingos Bragança, no inexplicavel descontrolo de Remisio de Castro no final da sessao.
Ja para nao falar dos tais "panegiricos".
Chegou a ser democraticamente penoso.
Creio que entre esta e a proxima sessao os partidos devem reflectir.
Porque a melhoria da qualidade das sessoes,que hoje via televisoes na net chegam a muita gente, nao pode ser mais adiada.
Se agora esta assim,nao havendo marcha atras,como sera a um ano das eleiçoes?
P.S. Este computador tem um problema que nao sei resolver com os açentos.
Dai a sua ausencia.

casimirosilva | 02:06

A reflexão, Cirilo, é facílima de fazer: os presidentes de junta não têm condições, ou melhor, não devem estar na Assembleia Municipal. Pelo menos, na condições em que estão. Quando isso acontecer a qulidade vai melhorar.

A sessão de ontem?! Foi uma sessão como tantas outras. Quer nos tempos em que por lá estiveste, quer nos tempos mais recentes em que nos cruzámos.

Há alguns dados que merecem reflexão. Desde logo, um presidente de câmara que está fisicamente cansado, o que é perfeitamente normal num pós-operatório como aquele a que foi sujeito. Curiosamente, como o passar do tempo, foi melhorando e terminou em grande com aquele recado ao depuatado Orlando Coutinho, já no final da sessão. Sabemos bem que Magalhães esteve muito bem aí. Aquilo foi uma pulhice fora de horas. Quem não esteve tão bem foi Remisio de Castro. Apesar do adiantado da hora devia dar a palavra a Nuno V. Brito. Só lhe ficava bem.

No resto, à exceção do que dizes de Domingos Bragança, que penso estar cada vez mais à-vontade e com um domínio total dos dossiês, estamos em sintonia. Aquela AM precisa de gente que saiba para que serve aquele órgão. E há lá muita gente que caiu do céu.

Em mais do que um partido. É claro que no PS e no PSD se nota mais. os outros são mais pequenos.

casimirosilva | 02:12

Só um pormenor mais:
o fim de ciclo já começou há muito no PSD. E não foi com André Coelho Lima, não, foi muito antes. Desde que o PSD desistiu de procurar pessoas que estejam por dentro das questões de agitam o dia-adia dos vimaranenses. Por exemplo, como quando Cirilo, como governador civil olhou para Guimarães.

O PSD destes tempos não tem ninguém que se preocupe com Guimarães. Tem muita gente que aprendeu depressa como se lutava nas arenas romanas. Só. Mas isso fazia parte do circo dos que mandavam.

Ana C. | 22:46

O computador do snr. Luís Cirilo tem um problema com os açentos (sic), mas não tem nenhum problema com a cedilha...

luis cirilo | 23:59

Caro Casimiro:
Ainda que sem acentos (obrigado Ana C.)vou tentar exercer o contraditorio.
Concordo quanto aos presidentes de junta.
Problema antigo para o qual nao vejo soluçao proxima.
Vamos ao fim de ciclo:
Registo a tua habil tentativa de transferir para o PSD algo bem visivel no PS.
A verdade,por muito que isso custe a alguns,e que nas eleiçoes de 2013 o candidato socialista a presidente nao sera Antonio Magalhaes. Salvo mudança na lei.
E portanto o ciclo de 20 anos por ele protagonizado termina.
Se se vai abrir um novo ciclo com outro socialista ou se vamos ter uma alternancia democratica ainda e cedo para saber.
Nao discuto os meritos de Domingos Bragança. Apenas registo que nas assembleias deste mandato tem procurado firmar uma posiçao.
Aqui e ali saindo do seu registo habitual e "clonando" Magalhaes no estilo mais contundente.
As razoes nao me parecem dificeis de descortinar.
Quanto ao PSD:
Em fim de ciclo nao esta seguramente. Estara,ou nao,no inicio de um novo ciclo.
Melhor,como se deseja,ou pior do que os anteriores apenas o tempo o dira.
Tenho,isso sim,como certo que as renovaçoes se apenas geracionais(como alguns parecem entender necessario)estao condenadas ao mais absoluto fracasso.
A terminar: Eu acho que o PSD pode gerar uma alternativa ganhadora ao poder socialista.
Mas tem de medir muito bem os passos e escolher ,melhor ainda, os parceiros da mudança.
Creio que este assunto da "pano para mangas"mas fico-me por aqui.
Por agora!
Foi so pelo interesse do texto do Samuel e pelas saudaveis "provocaçoes" do teu comentario que abri uma rarissima excepçao.
De facto,nem no meu blog nem nos blogues dos amigos,tenho escrito regularmente sobre a politica vimaranense.
Posiçao que tenciono manter por tempo indeterminado.

casimirosilva | 00:11

Obrigado pela tua exceção.

Arrumada a questão dos presidentes de junta que, em termos de análise do que serão as AM tem peso, passemos às nossas diferenças.

Domingos Bragança estás a fazer o caminho certo e inteligentemente perspicaz. Poderá copiar aqui e ali pormenores de Magalhães, mas isso também é muito importante nesta fase. Mas os dois são diferentes, muito diferentes. Nas forma, na ação e no discurso. O que não quer dizer que Bragança não seja uma ótima solução de futuro.

Sobre o PSD direi apenas que se não surgir nos próximos tempos uma alternativa ganhadora nunca mais isso acontecerá. Mas repito o essencial da ideia: têm sido tantos os ciclos no PSD vimaranenses que se lhe perde o rasto e não apenas o número mas dos círculos. E sabemos bem que em nenhum movimento se pode andar à deriva.

António Magalhães | 10:45

Enquanto cidadão sempre procurei acompanhar as sessões da Assembleia Municipal. Nos últimos 10 anos, por razões que se relacionavam com a minha vida profissional, apenas assisti a uma ou outra. No actual mandato tenho assistido a todas, ainda que na última o cansaço me tenha derrotado por volta da meia-noite.
Para quem se senta na bancada do público o panorama é confrangedor. As razões para o baixíssimo nível exibido pela maioria dos senhores deputados já foram há muito diagnosticadas. Todavia, não acredito que haja vontade de alterar a filosofia que presidiu à criação dos órgãos autárquicos, pelo que tudo continuará na mesma, ou pior, manter-se-á a tendência que se vem observando nos sucessivos mandatos e que os posts anteriores já referem.
Em boa verdade, as sessões da Assembleia Municipal reproduzem à escala local o ambiente que se observa na Assembleia da República. Nível medíocre da maioria das intervenções, reduzido leque de intervenientes, Postura inadequada de muitos deputados, etc., etc.
Já agora: e a ausência dos senhores vereadores da oposição? Lamentável!!!

casimirosilva | 12:15

Caro Magalhães, é sempre bom voltar a ver-te em ação. reparei na tua cara de cansaço e de desilusão. Já estive lá em baixo e percebo muito bem do que falas. Há algo de errado nas AM´s. E isso, obviamente, reflete-se na qualidade das intervenções, adas palavras usadas e principalmente na ausência de ideias concretas. Ali o que vale é a vara que servia de apoio a quem levava o gado.

Anónimo | 14:05

E a falta das vereadoras do PS?

Anónimo | 14:39

Com tanto iluminado, realmente não se percebe porque me vez de estarem no público não estão sentados nas bancadas dos partidos, contribuindo para a melhoria das Assembleias. Já agora, julgo que o Cirilo também pode dar um grande contributo à nobreza deste órgão, basta para isso ir às reuniões preparatórias do seu grupo parlamentar e dizer que quer ajudar o partido intervindo e dando o peito às balas. É verdade que é mais fácil e cómodo estar sentado na última fila. Até dá para mandar bocas desnecessárias aos colegas de bancada. Enfim...

luis cirilo | 14:51

Achei sinceramente piada ao comentário do (tão pouco) Anónimo das 14.39h.
E achei piada apenas porque foi a confirmação de que velhos métodos e velhas práticas continuam a ser usados nos tempos de hoje.
Como era de prever.
Naturalmente que para quem está menos familiarizado com estes "métodos" importa fazer dois esclarecimentos:
O primeiro é que não é nenhum "Anónimo" (ahahah) que me vai ensinar a combater politicamente o PS na Assebleia Municipal. Já dei provas ao longo dos anos(e até no actual mandato) que tenho umas "luzes" sobre a matéria.
A segunda, e esta mais ´seria (dentro da importância que tem os comentários de um pseudo "Anónimo"),tem a ver com a minha postura na ultima fila.
Onde,como é evidente,nunca mandei "bocas" a colegas de bancada.
Se alguem levou esse "recado" o pseudo anónimo está como o André Vilas Boas; tem de ter mais cuidado com o que lhe dizem para depois não fazer tristes figuras.

casimirosilva | 17:39

Caro Cirilo, tens toda a razão: falta mesmo coragem a tipos destes (o meu avô chamava-lhe outra coisa). Pela minha parte - e estou certo que também pela tua - prefiro a luz ténue do trabalho diário do que os holofotes da vaidade do momento.