Do debate "Os jovens e a política"

A primeira reacção que se pode ter depois do debate sobre os jovens e a política, que decorreu ontem no CAE São Mamede, é a de que é urgente a criação de um Conselho Municipal de Juventude.

Este organismo poderia colmatar duas lacunas que se tornaram evidentes ontem: o enquadramento local das várias opções políticas manifestadas pelos representantes das diversas forças partidárias; e a inclusão de jovens que, alheios aos organismos partidários, usam os movimentos sociais e associações da mais variada índole para definir a sua intervenção cívica.

Dos representantes partidários presentes, a principal limitação que na minha opinião se tornou evidente, foi a incapacidade, por um lado, dos partidos de esquerda, de fugir das questões ideológicas de base e terem uma visão mais genérica do sistema que actualmente nos rege (pelo que seria interessante perceber quais os seus contributos para políticas locais concretas); e por outro, a dificuldade dos partidos centro-direita terem uma voz activa no âmbito das políticas de juventude quer no próprio partido, quer nas instituições locais e nacionais que as implementam.

Se algo que, quem esteja por fora, possa ter suspeitado é a ideia de que o IPJ está caduco, as vereações ligadas à juventude são autistas e os organismos públicos que possam ter políticas de juventude não têm uma estratégia comum, deixando-se levar pelo sabor do vento e a competência ou falta dela dos seus responsáveis.

Mas no essencial, parece-me haver nos jovens massa crítica suficiente para conseguirem esgrimir entre si os seus projectos e pontos de vista (e pelo que se viu ontem, mais centrados no conteúdo do que na forma, ao contrário dos seus congéneres seniores da Assembleia Municipal), pelo que a criação de um organismo como o Conselho Municipal de Juventude poderia aproveitar
para o bem do município toda a vontade e dedicação representadas diariamente, quer pelos elementos das várias forças partidárias, quer pelos jovens que dão a cara a um vastíssimo conjunto de intervenções na sociedade.

Em jeito de conclusão, mais do que o paternalismo vaidoso de quem possa achar que tem alguma coisa a ensinar aos jovens, parece-me que são eles que podem realmente mudar as formas de representatividade democrática e de diálogo entre forças políticas, conseguindo provavelmente aquilo que manifestamente não foi conseguido pelos intervenientes políticos actuais, que é a discussão das ideias e dos projectos pelo que valem e não por quem os apresenta.

A criação dum CMJ poderia também dificultar, dessa forma, através de um novo paradigma na intervenção política, a fácil subordinação dos jovens deputados a um sistema velho e pouco produtivo do ponto de vista da capacidade de gerar consensos e políticas seriamente discutidas e adoptadas para o médio e longo prazo.

Assim o espero.

4 reacções:

Tiago Laranjeiro | 17:04

O Conselho Municipal de Juventude, órgão consultivo do Presidente da Câmara, deveria ter entrado em vigor em Setembro passado, de acordo com a legislação.

Paulo Lopes Silva | 21:04

Caros,

Antes de mais, permitam-me: mais do que um Conselho Municipal da Juventude, faltam aos jovens desta cidade mais espaços de debate como este que o Colina e o São Mamede levaram a cabo. Com abertura a toda a sociedade, com voz a quem nele quis participar. Fiquei com a ideia clara no final do debate, que se tivessemos ali mais duas ou três horas, havia ainda vontade de debater.

Leva-me também a outra conclusão: há massa crítica, diversidade de opiniões e cultura de debate democrático nestes jovens.

E quanto ao conteúdo do debate, fica registada uma ideia geral: Os jovens estão com vontade na política, e o que afasta, aqueles (a maioria) que não participam são a falta de credibilidade dos políticos e a falta de formação política e cívica desses jovens.

Tiago Laranjeiro | 22:21

Paulo,

tens razão quando dizes que o CMJ não é o que mais falta faz. Até porque nesse órgão têm assento associações juvenis, juventudes partidárias, associações de estudantes, e não cidadãos em nome individual.

A JSD Guimarães tem uma proposta antiga para o nosso concelho: a criação de uma Assembleia Municipal de Juventude, bem mais ampla, na qual possam participar também os jovens que não representam qualquer instituição, e pôr todos a discutirem os problemas da cidade (o que não é a função do CMJ).

Nuno Pereira | 10:46

Bom dia,

Infelizmente não pude estar presente no debate, mas saúdo o Colina Sagrada pela iniciativa - parabéns!
Na minha modesta opinião, penso que em Guimarães existe uma lacuna no que se refere a políticas de juventude e nesse sentido considero importante a criação de um verdadeiro CMJ, onde as organizações de jovens se pudessem concertar e implementar acções que promovam uma maior participação dos jovens.