State of Play


Há algum tempo atrás, o Pedro Morgado criticava o esvaziamento do debate público sobre temas políticos - naquele caso, a localização do novo aeroporto de Lisboa e o traçado do TGV - pelo debate técnico. Na altura tinham sido especialistas da área a reduzir o debate a problemas técnicos, quando na verdade ele é muito mais amplo que isso.

Hoje soube-se que a economia portuguesa cresceu no segundo semestre 0,3% face ao primeiro semestre deste ano. Depressa se veio a público anunciar o "início do fim da crise", virou notícia do dia e há quem vaticine que do mês e do período eleitoral que se vive.

Não é preciso saber-se muito de economia para perceber do que estamos a falar: a evolução da economia portuguesa continua em terreno muito negativo quando comparada com o que era há um ano atrás (3,7%), e o crescimento de 0,3% anunciado é praticamente nulo, apenas consolando os desesperados que há muito precisavam de algum dado positivo para se agarrarem. É um sinal, muitos dizem. Talvez seja. Mas se o for, vê-se apenas à lupa.

No entanto, a Sic Notícias levou o assunto para o programa Opinião Pública, servindo de mote ao debate a suposta "recuperação económica". Ora, se por vezes nos queixamos do debate público esvaziado pelo debate técnico, aqui é o debate público desinformado que tira o carácter sério ao tema. Eu estou a cursar a licenciatura de Economia e não me sinto com preparação mínima para falar a sério sobre este tema. Preciso de aprofundar melhor o conceito de evolução da economia para perceber o que significa a sério. Porque dito assim, da boca para fora, é bonito, cheira bem, mas não diz coisa alguma. Assim foi o debate naquele programa. Assim vai grande parte do debate aqui na blogosfera, nas ruas e nos cafés.

9 reacções:

Hugo Monteiro | 20:10

Se o primeiro-ministro vier dizer que esta "retoma" foi resultado das políticas económicas e sociais aplicadas nos últimos meses estamos perante a maior irresponsabilidade política até então. Se há alguma recuperação, ela existe APESAR das medidas do governo e não por causa dela. Deixem o mercado funcionar.

Paulo Lopes Silva | 20:15

Deixem o mercado funcionar. E ciclicamente voltaremos ao mesmo.

Tiago Laranjeiro | 20:31

Paulo, o teu comentário demonstra um profundo desconhecimento de história económica. Não há qualquer modelo económico conhecido que produza tanta riqueza e resulte em tanto bem-estar para toda a sociedade como o modelo de mercado.

Hugo Monteiro | 21:20

Paulo:

Parece-te melhor que o subir impostos, baixar impostos, aumentar salários, congelar salários, dar "incentivos", tirar subsídios, anunciar projectos, cancelar projectos, adiar projectos que se dá todos os meses? Ninguém consegue trabalhar assim.

Paulo Lopes Silva | 21:48

Dentro das diferenças de opinião que temos sobre o assunto, parece-me que o Hugo percebeu onde eu quis chegar. A história, e não só económica, dá-te lições sobre escolha de politicas económicas, se recuares.

Samuel Silva | 00:46

Crescer, mesmo que pouco, num momento de profunda crise, é positivo. Se na Europa há uma esperança redobrada com os resultados (semelhantes) de França e Alemanha, em Portugal não pode fazer-se o mesmo tipo de leitura?

E se o governo não tem mérito quem é que o tem? Em Espanha ou na outrora modelar Irlanda os resultados no mesmo período são deprimentes. Alguma coisa foi feita me Portugal que não foi feita por lá, não é?

Hugo Monteiro | 02:11

A banca portuguesa passou praticamente incólume pela crise. Nem dá para perceber bem donde vem tanta recessão. A crise internacional foi a melhor desculpa que os partidos políticos arranjaram nos últimos anos.

Samuel Silva | 10:33

A banca passou incólume, Hugo? Manteve os lucros, mas baixou fortemente o volume dos mesmos. Para os bancos é um rombo jeitoso.

Samuel Silva | 10:33

E o BPP e o BPN estoirariam como estoiraram (mesmo com as aldrabices à mistura) se os tempos fossem outros?