O debate e a CEC

Prato forte do debate “A cultura em Guimarães e o desafio de 2012” era, obviamente, a organização da Capital Europeia da Cultura pela nossa cidade, dentro de quatro anos. Ninguém tem dúvidas de que será um sucesso. Pelo menos enquanto mostra artística. Mas 2012 tem que ser mais do que isso.

A explicação inicial da vereadora da Cultura desfez alguns dos meus receios. Afinal há um projecto, há uma linha orientadora e há vontade de fazer um evento de grande qualidade, que seja capaz de projectar a cidade. Por muito que o projecto esteja envolvido em secretismo.

Ideia a reter: é essencial que 2012 seja um marco e não um fim em si mesmo. Mais importante do que essa data, será, possivelmente, 2020, quando olharmos para trás e virmos na CEC um momento fundamental para Guimarães.

A vontade de criar em Guimarães um “efeito Barcelona”, fazendo em cinco anos o que, de outro modo, seria feito em 20 ou 30, é fundamental. Na cultura, mas também em termos de criação de infra-estruturas e, fundamentalmente, de renovação urbana e de vivência de cidadania.

12 reacções:

Hugo Monteiro | 16:54

Generalização abusiva:

Eu tenho dúvidas.

Samuel Silva | 16:58

Pois, eu não. E quem esteve no debate também não as tem.

Hugo Monteiro | 23:41

Como disse, extrapolação abusiva.

Samuel Silva | 23:43

O post reporta-se ao debate que aconteceu na sexta-feira.

De qualquer das formas: o que te leva a ter dúvidas quanto ao sucesso da CEC?

Hugo Monteiro | 02:02

Primeiro, sucesso é um termo relativo.

O Porto - Capital Europeia da Cultura teve um investimento maciço. É muito difícil mensurar as vantagens obtidas tendo em conta os esforços empregues.

Segundo, Guimarães que está, no máximo, em segundo plano, no panorama nacional. Os acessos, caminhos de ferro à cabeça, não são práticos, em termos de tempo despendido nos percursos. Caso o acontecimento atraia muitos visitantes das localidades próximas, é preciso lidar com o fluxo de carros... ou desincentiva-lo, apresentando alternativas.

Resumindo: acho que há muito dinheiro para ser bem ou mal investido. A classe política que temos leva-me a temer a segunda hipótese. Mas posso estar a incorrer o risco de extrapolar abusivamente.

Samuel Silva | 18:34

O sucesso de que falo é "enquanto demonstração artística". Esse é fácil de alcançar: comprar um bom cartaz, gastando mais ou menos dinheiro. Aí parece-me fácil conseguir um sucesso, ancorado numa boa programação e em números de público volumosos. Isso é o fácil.

Como disse, a CEC tem que ser muito mais do que isso. Tem que ser os nosso Jogos Olimpicos, como digo num texto que há-de sair amanhã no ComUM.

E aí concordo contigo: não é uma cidade com os problemas que Guimarães tem em termos, por exemplo, de acessibilidade, que se pode afirmar internacionalmente.

O Porto 2001 também teve um bom cartaz e não foi um sucesso. É aí que temos que ser diferentes, para melhor.

Discordo, porém, quando dizes que é "muito difícil mensurar as vantagens obtidas tendo em conta os esforços empregues". Não é. Basta impor em portugal o conceito de "accoutability". O que é coisa rara.

Faz um exercicio simples: uma busca no google acerca de estudos sob re os efeitos directos e indirectos dos JO em Barcelona ou em Atenas, dos Mundial de Futebol da Alemanha ou da Expo de Sevilha. Há imensos. Depois faz o exercício com o Euro 2004 e a Expo 98. Pois...a diferença é enorme.

Outra coisa com a qual não posso concordar. Dizes que Guimarães está em segundo plano a nível nacional. E isso é um problema? As actuais CEC não são em nenhum dos casos as capitais ou sequer as segundas cidades desses países. São cidades da dimensão de Guimarães.

Que obviamente tem problemas, limitações, mas que já provou poder receber eventos de grande envergadura dando o exemplo. Por exemplo, no Euro 2004. Fez o estádio mais barato, o primeiro a ficar pronto e um dos mais elogiados pela organização.

É em factos como este que me baseio para dizer que a CEC tem tudo para correr bem. Não há, ao contrário do que dizes, muito dinheiro para 2012. Estão previstos 111 milhões (que é quanto custou apenas a Casa da Música), mas nem esses estão assegurados.

Mas, socorrendo-me novamente do exemplo do 2004, os políticos vimaranenses já mostraram que conseguem gerir bem os recursos disponíveis. Podem ter outros defeitos. Esse não será um deles, creio.

Hugo Monteiro | 18:58

Ok. Depois de acabar, vocês mandam-me umas fotos a dizer como foi. xD

Samuel Silva | 19:04

Não fazes o mestrado até 2012? De Aveiro a Guimarães é um instante... :)

Rui Silva | 20:56

Para mim, acima de tudo, o impacto da CEC terá que ser na região e não nacional ou internacionalmente.
É claro que irão existir eventos com nível internacional, coisas nunca vistas aqui, e deve ser assim sob pena de não ter visibilidade suficiente para «converter» as pessoas, mas o verdadeiro trabalho começa agora e tendo o ponto mais alto em 2012, não acaba aí.
Parece-me importante começar já a fazer públicos, principalmente jovens através de parcerias com escolas, para começarem a produzir e receber cultura.

Samuel Silva | 14:08

Caro Rui Silva,

não é essa formação de públicos que faz o CCVF com os workshops e, particularmente, o serviço educativo.

Concordo consigo quando diz que o trabalho de 2012 tem que ser feito antes e depois do evento. É isso que venho defendendo. Com o que já não concordo é que diga que o impacto do evento terá que ser fundamentalmente regional.

Guimarães já é uma marca da cultura que se faz no NO da Peninsula, nomeadamente do lado português. Potenciar essa marca não me parece dificil. O importante será afirmar a cidade enquanto polo cultural do país (o terceiro, ás vezes segundo) e utilizar o evento para a promoção internacional. É uma oportunidade que a indústria do turismo não pode perder.

Rui Silva | 15:19

"não é essa formação de públicos que faz o CCVF com os workshops e, particularmente, o serviço educativo."

Também. E deve continuar a fazê-la e fortalecer a mesma até. E outras associações e as próprias escolas devem contribuir mais do que já esão a fazer para essa formação.

Aquele "impacto ter que ser fundamentalmente regional" é, obviamente, um desejo pessoal. Mais do que ter em Guimarães/Braga/Famalicão um polo nacional de atracção de públicos de outras zonas, considero importante o crescimento da percentagem de residentes na região com interesse na oferta cultural.

Até porque um público maior permite uma melhor consolidação da oferta cultural (estou a pensar no São Mamede, por exemplo) e tornar mais viável a aposta em eventos de maior dimensão que, por seu turno, também irão trazer mais público de fora.

Samuel Silva | 16:56

Ai estamos totalmente de acordo. É de facto assinalável a realidade actual de oferta cultural num espaço geográfico tão próximo. Mas é desejável que a enorme oferta cultural deste eixo minhoto se traduza numa crescimento do interesse dos habitantes locais na cultura.

Não temos um estudo de públicos no CCVF, mas o trabalho feito no Theatro Circo mostra bem como os bracarenses são o principal público do seu espaço, mas os habitantes de Guimarães e Famalicão são também uma parte considerável da procura.