A pergunta feita pelo cronista Alfredo Oliveira faz todo o sentido. A resposta é, claramente, negativa: não existem televisões nacionais. Existem canais que emitem para todo o território “mas que na realidade não passam de canais regionais lisboetas”. Agora grande parte dos exemplos escolhidos por Oliveira dificilmente poderiam ser piores: por excesso de futeboleirice. Se é isso que incomoda na lisboetização dos canais de tv, é pegar pelo inútil, por aquilo que não interessa para nada. Fica-se, claramente, com a ideia que se o Vitória fosse mais vezes notícia o panorama já não era assim tão mau e provavelmente esta crónica nem existiria. Ainda por cima, ao ter escolhido os exemplos que escolheu, o cronista vai contra o próprio facto que alegou, já que o clube em causa - desconte-se um ou três milhões de adeptos com ou sem quite e o exagero de vezes que é referido – é o clube mais “nacional” de Portugal. O próprio modo como Alfredo Oliveira termina a sua crónica deixa-me na dúvida se li uma reflexão sobre telvisão ou sobre futebol. O que é importante – e que Oliveira só aborda nos seus oitavo e nono parágrafo - é compreender o que é dito e o modo como se diz. A linguagem com que se fala de um local - a capital - e dos outros - a provincial província por quem tem o estatuto e o editorial de se assumir como “nacional”. E aí a análise do cronista faz todo o sentido. Se a aprofundarmos um pouco mais logo encontramos fascinantes exemplos que dariam um interessante estudo: tudo começa no facto de Lisboa ser a cidade padrão por defeito: quando não se diz onde é, há que “presumir” que é lá, o que não deixa de ser desprestigiante para canais alegadamente nacionais, ligeiramente insultuoso para os sete milhões de portugueses (desconte-se mais um) que não moram em Lisboa ou nos seus belos subúrbios. Exemplos: “hoje no teatro Dona Maria”, “hoje na Rua Ivens”, “rebentou um cano no Campo de Santana”. Onde são estes lugares? Em Lisboa, nos que presumamos ou que adivinhemos. Quando a notícia é igual, mas se reporta a outros locais já temos um “hoje, no Teatro Circo em Braga”, “hoje, no bairro da Conceição em Guimarães” e por aí fora. Outro caso, ainda na linguagem jornalística: quando as pessoas de Lisboa se manifestam, são os “cidadãos” de Lisboa. Quando são do resto do país (salvo, algumas vezes, o Porto), já são a “população” deste ou daquele lugar. Quanto às notícias propriamente ditas, aí sim, a reflexão de Oliveira faz todo o sentido: as trivialidades urbanas, o trânsito, o mundo das artes e da cultura, as inaugurações e os crimes citadinos são todos lá e, excepcionalmente, no Porto. No resto do país só há lugar para corrupção industrial e outros crimes (passionais à cabeça) e sobretudo histórias que façam parecer as Avenida Conde Margaride, de Trajano Augusto e a Central acabadinhas de sair de filmes de bruxas, feiticeiros e extra terrestres. E pronto, o comentário já vai longo e eu não me recolho sem saber como fluiu hoje o trânsito na calçada de Carriche.
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A pergunta feita pelo cronista Alfredo Oliveira faz todo o sentido. A resposta é, claramente, negativa: não existem televisões nacionais. Existem canais que emitem para todo o território “mas que na realidade não passam de canais regionais lisboetas”. Agora grande parte dos exemplos escolhidos por Oliveira dificilmente poderiam ser piores: por excesso de futeboleirice. Se é isso que incomoda na lisboetização dos canais de tv, é pegar pelo inútil, por aquilo que não interessa para nada. Fica-se, claramente, com a ideia que se o Vitória fosse mais vezes notícia o panorama já não era assim tão mau e provavelmente esta crónica nem existiria. Ainda por cima, ao ter escolhido os exemplos que escolheu, o cronista vai contra o próprio facto que alegou, já que o clube em causa - desconte-se um ou três milhões de adeptos com ou sem quite e o exagero de vezes que é referido – é o clube mais “nacional” de Portugal. O próprio modo como Alfredo Oliveira termina a sua crónica deixa-me na dúvida se li uma reflexão sobre telvisão ou sobre futebol.
O que é importante – e que Oliveira só aborda nos seus oitavo e nono parágrafo - é compreender o que é dito e o modo como se diz. A linguagem com que se fala de um local - a capital - e dos outros - a provincial província por quem tem o estatuto e o editorial de se assumir como “nacional”. E aí a análise do cronista faz todo o sentido. Se a aprofundarmos um pouco mais logo encontramos fascinantes exemplos que dariam um interessante estudo: tudo começa no facto de Lisboa ser a cidade padrão por defeito: quando não se diz onde é, há que “presumir” que é lá, o que não deixa de ser desprestigiante para canais alegadamente nacionais, ligeiramente insultuoso para os sete milhões de portugueses (desconte-se mais um) que não moram em Lisboa ou nos seus belos subúrbios. Exemplos: “hoje no teatro Dona Maria”, “hoje na Rua Ivens”, “rebentou um cano no Campo de Santana”. Onde são estes lugares? Em Lisboa, nos que presumamos ou que adivinhemos. Quando a notícia é igual, mas se reporta a outros locais já temos um “hoje, no Teatro Circo em Braga”, “hoje, no bairro da Conceição em Guimarães” e por aí fora. Outro caso, ainda na linguagem jornalística: quando as pessoas de Lisboa se manifestam, são os “cidadãos” de Lisboa. Quando são do resto do país (salvo, algumas vezes, o Porto), já são a “população” deste ou daquele lugar.
Quanto às notícias propriamente ditas, aí sim, a reflexão de Oliveira faz todo o sentido: as trivialidades urbanas, o trânsito, o mundo das artes e da cultura, as inaugurações e os crimes citadinos são todos lá e, excepcionalmente, no Porto. No resto do país só há lugar para corrupção industrial e outros crimes (passionais à cabeça) e sobretudo histórias que façam parecer as Avenida Conde Margaride, de Trajano Augusto e a Central acabadinhas de sair de filmes de bruxas, feiticeiros e extra terrestres.
E pronto, o comentário já vai longo e eu não me recolho sem saber como fluiu hoje o trânsito na calçada de Carriche.
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