“À carga!”

Bum! Bum! Bum! Ao fim de três minutos de concerto, já o grande auditório do Centro Cultural de Vila Flor tinha pegado fogo. A banda para casamentos e funerais por detrás de Goran Bregovic tinha dado o mote para uma noite memorável no CCVF.

As luzes não se tinham apagado e ninguém percebeu bem porquê. De repente soa um trompete por detrás das cabeças. Ninguém indiferente e a banda a entrar pelos fundos, a descer a escadaria e a começar de forma desconcertante o concerto. Aos metais junta-se a precursão, Goran entra no palco e a música explode. E saltam das cadeiras as primeiras pessoas, que se juntaram ao pé do palco e por lá ficaram, cada vez em maior número, até ao final do concerto.

Dez músicos em palco. Bons, muito bons executantes. E um excelente compositor capaz de ir de uma melodia doce à loucura de um grito militar em breves instantes. A tensão que se foi acumulando durante o concerto (quem consegue ficar indiferente aos ritmos dos Balcãs?) estoirou no fim. Já depois de duas horas de excelente música. Já ninguém estava sentado, o CCVF estava transformado em pista de dança, mas faltava o clímax da noite.


1, 2, 3, 4. À carga!: Kalajnikov. O maior sucesso de Bregovic à conta da banda sonora do excelente Underground do ex-comparça Kusturica. E um auditório em euforia, como nunca vi naquela sala.

Concerto único. Em Portugal e na vibração que perpassou a sala: Cheia. Por tudo isto está de parabéns o CCVF. Grande aposta!

Além disso, o sucesso que foi o concerto do último sábado pode ter o condão de mostrar à casa de cultura municipal de Guimarães um caminho novo. É que Bregovic não é apenas um nome da World Music capaz de trazer o Grande Auditório o seu público habitual. É também um ícone de uma geração que não ouve só o que chega empacotado nos EUA e do Reino Unido.

A
programação de Abril dá sinais contraditórios. A excelente Anja Garbarek, a aposta sólida em Tord Gustavsen e o teatro com a qualidade habitual na ACERT (e texto de Agualusa e Mia Couto) estão a sintonia com a boa programação de Março. Mas depois há isto. Uma voz fraquinha e quatro acordes numa guitarra chegam para chegar a esta palco? Espero que seja só um acidente de percurso…


15 reacções:

Cláudio Rodrigues | 01:45

Xiça! Mafalda Veiga?! Agora a sério: eu também não aprecio muito. Aliás, nada. Mas temos de ser eclécticos e dar o mesmo espaço a pessoas que também merecem e que também tem o seu público (e muito...). Deve encher. Eu não irei, mas não considero um acidente de percurso. Desde que não venha o João Pedro Pais! Hehe ;-) Vai ser, com certeza, um bom concerto.

Anónimo | 11:16

Não percebo esse desdém. Percebo que não se goste da senhora, das suas companhias mais recentes, mas não deixa de ser um nome da cena musical que não envergonha, que deixa a milhas de distância alguns dos fenómenos mais recentes que também tiveram honras de pisar o palco do CVVF. Já se percebe que se dependesse do Samuel, a programação não teria lugar para sonoridades mais "populares"...
Já agora: que me diz do Fernando Mendes no S. Mamede?

JB

Anónimo | 12:41

Qual é a relação entre uma casa comercial que traz o gordo mais parvo da televisão e a programação que sim senhor deve ser heterogénea? Esta chamada de ligação com o São Mamede não é nenhuma dor de cotovelo?

Samuel Silva | 14:47

Eu não só não gosto de Mafalda Veiga como não lhe reconheço a qualidade mínima exigível para pisar um palco como o do CCVF, ainda por cima a cinco contos por cabeça.

Se dependesse de mim havia sonoridades mais populares do CCVF. Não havia era lugar a esta estranha casta de cantores nacionais como a Mafalda Veiga, O Joao Pedro Pais e o André Sardet.

Como disse no post é gente que junta os quatro acordes que sabe fazer na guitarra e faz umas charopadas com letras lamechas que servem bem como banda sonora de uma novela.

Custa-me vê-la num palco destes. Ainda para mais quando o CCVF está a entrar num caminho seguro e de excelente nível nos últimos meses.

Quanto ao Fernando Mendes é uma desgraça como humorista, uma atentado como apresentador de televisão e um erro como produto "cultural".

Mas o S. Mamede não é feito com dinheiros públicos, pelo que se percebe que tenha que fazer dinheiro com desastres desta natureza, para depois nos poder oferecer Nouvelle Vague e Clã.

casimirosilva | 15:44

Tens toda a razão, este concerto foi (simplesmente) fora-de-série.

Marcante. Definitivamente um registo histórico.

Cláudio Rodrigues | 17:47

Samuel, concordo contigo em não gostar de Mafalda Veiga e outros que tais, mas isso são o teu e o meu gosto. Mafalda Veiga enche salas e a vinda dela cá não me assusta assim tanto. É certo também que, sendo o CCVF um CENTRO CULTURAL, uma casa com programação própria e não uma simples SALA DE ESPECTÁCULOS (como o São Mamede pode ser considerado), devia e tem de ter atenção ao que programa. Mas, como também é sabido, o CCVF funciona como a Sala de Espectáculos de Guimarães, ou seja, enfim. Tem de ser...

Repito: vai ser, com certeza, um bom concerto. [Acrescento: ao estilo de quem aprecia esse estilo]

MAIS:
Cada vez é mais notória a relevância de uma discussão local sobre as políticas culturais. Este caso deixa-me confuso, e talvez mereça um post.

João Marques | 20:24

Samuel a oficina no ano passado não deu prejuízo?
No meu entender o CCVF precisa de um concerto populista por mês para alimentar a cultura do resto do mês. Porque se for só do orçamento da camara a qualidade não pode ser mantida facilmente...

E deste modo agrada-se ao "povo", porque o CCVF é de todos e pode servir de "alavanca" para outro tipo de concertos/espectáculos

Anónimo | 21:19

Gostos não se discutem, mas o valor da Mafalda Veiga não está em causa. É grande cantora e a solo, que já presenciei por duas vezes, vale bem o preço do cartaz!Depende das gerações...

Anónimo | 23:29

Por falar no Sardet recordo-me (ou estou enganado) que foi mesmo ele que esteve há bem pouco tempo no Theatro Circo - o paradigma da programação (fim uma vénia!)?

Samuel Silva | 11:22

O André Sardet esteve no Theatro Circo, de facto. Numa festa de natal da Rádio Renascença, tanto quanto sei. A rádio alugou o espaço e o evento na fazia parte da programação do TC. O mesmo se passou no CCVF com os inenarráveis Santos e Pecadores, há um ano e meio, sensivelmente.

Pol Pot | 12:12

Quem organiza a Shô Dona Mafalda no Vila Flor? Pistas? É a mesma gamela que organiza os concertos das Gualterianas e as Carreiradas do Multiusos.
Percebes agora pq é q vem cá a senhora cantar?

SicGloriaTransitMundi | 10:30

Se o CCVF trás espectáculos de m****, é porque trás espectáculos de m**** e que não enchem!!!...Se o CCVF trás espectáculos bons é porque trás espectáculos só para encher a casa...Caramba!!!

Começo a achar que nesta terra não se critica positivamente, mas só para deitar abaixo!!!

Assim Guimarães não vai ter um 2012 pacífico!!!!!

Samuel Silva | 11:40

Encher a sala com Goran Bregovic vale a pena. O Centro Cultural cumpre a sua função de programar com qualidade.
Mas encher, só por encher, é cometer um erro tremendo. E encher com Mafalda Veiga é encher sem qualidade. Vale a pena? Quanto a mim, não.

Mas continuem a programar na "onda" de Bregovic, que iam num muito bom caminho.

Anónimo | 13:22

Aconselha-se vivamente a esse parvo do sr. Samuel a assistir ao espectáculo da Mafalda e só depois a deixar aqui comentários. Não respeitar uma poetisa tão grande como a Mafalda o é, é um acto de autentica parvoíce. Vá aprendar a respeitar Portugal e a língua portuguesa!

Anónimo | 14:34

O concero da mafalda Veiga foi espectacular. Dos melhores que o Centro viveu. Foi muito, muito, bom, cheio de qualidade... e com casa cheia, bem cheia...ESGOTOU... Porque os velhos do Restelo, ainda são muito poucos, felizmente... Alguns palermas de vinte e poucos anos têm mentalidade de velhos do restelo. Não tenho problema nenhum em chamar-lhes palermas... quando utilizam os blogs para denegrir o que o nosso país tem de qualidade...