"A minha TV não presta"
No geral, concordo com o Hélder, embora me confesse admirador do género OT, por ser um concurso quase à velha maneira, em que se comparam talentos e não as tristes figuras.
É que o serviço público de televisão tem dado passos firmes na afirmação da sua qualidade. Seja no entretenimento, na produção histórica - "Conta-me como foi" é uma série de luxo num país de tele-lixo – e também na informação. Agendada para amanhã está a estreia de "A Guerra", série documental de Joaquim Furtado - bem-vindo de volta - sobre o Ultramar e as marcas que deixou em Portugal e em África. Isto é serviço público.
Tenho mais dificuldades em perceber opções como a transmissão de uma tourada no Dia do Animal. Ou então a promoção propagandística de Fátima ao longo do fim-de-semana. Estado laico, pois…
As transmissões directas das cerimónias religiosas, de tão comuns, quase me passam ao lado. Se calhar até são legítimas num país de suposta maioria católica. Mas o tipo de cobertura feita ao aniversário das aparições, a propósito também da inauguração da nova igreja da Cova da Iria, foi coisa para me causar alguma confusão.
Na sexta-feira, a RTP passou um documentário sobre a relação de Fátima com a revolução Russa. Um dos segredos que a Senhora transmitiu aos pastorinhos teria a ver com a prometida conversão da Rússia e, de facto, bem explorado, o tema podia resultar.
Só que o documentário foi uma ode aos méritos de Fátima e um panfleto de propaganda anti-soviética, confundindo momentos históricos – Fátima foi em 1917, o estalinismo veio quase duas décadas depois – e promovendo o fim da URSS como obra de Nossa Senhora. O que, a ser verdade, não é grande mérito para a dita, já que podia ter feito a coisa em menos tempo, poupando os milhões que o Gulag assassinou.
Ontem à noite foi a vez de um “debate” sobre o fenómeno. De um lado três membros da hierarquia católica e um fervoroso militante da causa de Deus. Do outro, Mário Soares, o único céptico num debate de crentes, que só podai sair enviesado.
Algumas opções recentes, como aquelas a que me reporto, são discutíveis. E o serviço público de televisão é feito com o dinheiro de todos nós e, em teoria, para todos nós. Cabendo-nos, também, escrutiná-lo.
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