Esbozos para Guimarães

Plaza Mayor, ou Toural. A partir de 2012, espero que sem atrasos, Guimarães vai passar a ter uma, tal como deve ser, sem carros e árvores (para deixar os peões viver o espaço e não perturbar a monumentalidade, respectivamente), como uma grande cidade e urbana tem. Este, que será um dos seis dos 5 Projectos para Guimarães mais debatidos e criticados, agrada-me profundamente, e já vem tarde.

Agrada-me um Toural, como ideia de praça central de uma cidade, devolvido às pessoas, mas disso também ninguém discorda. Já era hora de tirar o fumo do pulmão, o ruído do ouvido, o caos da vista, o sobressalto do coração! O que parece ferir os vimaranenses, ou alguns de nós, é o facto de se desviarem as árvores para o lado.

Não querendo ser saudosista como os que defendem que o Toural sempre teve árvores e que por isso deveria continuar a tê-las, mas já o sendo, o Toural nem sempre teve árvores e deve agora deixar de tê-las! Para mais, a construção subterrânea do parque de estacionamento e dos viadutos não permitirá a sua sobrevivência.

«Agrada-me um Toural, como ideia de praça central de uma cidade, devolvido às pessoas, mas disso também ninguém discorda. Já era hora de tirar o fumo do pulmão, o ruído do ouvido, o caos da vista, o sobressalto do coração!»

E porquê os viadutos e o parque? Ou melhor, e porquê o parque? Eu posso responder. Porque este restauro deverá durar cerca de meio século e dentro de uma década fará bastante sentido a sua existência. Mesmo que agora comece por dar prejuízo, ou que faça com que os periféricos comecem a ter prejuízo. (Já agora que falo em prejuízo, esta seria a altura ideal para devolver o chafariz que está no Carmo ao Toural, e de levar a mulher da fonte (e não a Maria) para outro sítio.)

Quando à Alameda de São Dâmaso, também nada a dizer de negativo, muito pelo contrário. Árvores com fartura, boa iluminação, esplanadas, mobiliário urbano adequado e eventos de forma regular vão tornar as ínsulas rodoviárias existentes agora num verdadeiro local propício ao ócio e à convivência. Deste projecto Toural/ Alameda, que para mim são dois, só uma coisa me assusta, ou duas: a demora da construção e a localização das entradas e saídas dos túneis. Do resto penso que Guimarães só ganha com isto.

«CampUrbis: 20 valores. A ideia de revitalizar uma zona operária antiga e oferecê-la ao conhecimento, ciência e inovação, e a limpeza do Rio de Couros é de exulto!»

Projecto seguinte, numa frase: deslocação da Feira Semanal sim e mudança do dia da feira semanal sim, porque sexta-feira é o dia em que há mais trânsito em qualquer cidade e a feira nesse dia só agrava o problema. Ponto.

CampUrbis: 20 valores. A ideia de revitalizar uma zona operária antiga e oferecê-la ao conhecimento, ciência e inovação, e a limpeza do Rio de Couros é de exulto! Este projecto irá tapar definitivamente um "buraco" rodeado pelo Centro Cultural Vila Flor, estação de caminho de ferro, hotéis, escolas, espaços de culto, de comércio, e muitas habitações. E vai trazer a Academia para mais perto da cidade.

Quanto ao antigo Mercado Municipal, edifício neste momento sem uso a uns passos do coração da cidade e de reestruturação sensível por si próprio e pela sua envolvência, não sei se o seu desígnio será o melhor. As alterações e criações para o novo espaço, autoria do Arquitecto António Gradim, parecem-me boas, mas receio que finda a Capital Europeia da Cultura a praça morra. Sinto uma carência de ideias que sustentem a praça a longo prazo.

A "Casa da Memória", que será um museu bastante ligado às novas tecnologias, é a ideia central do projecto mas não será ela que trará vida ao sítio. Ou existirá uma grande dinâmica por parte dos investidores particulares para que consigam encher as suas "casas" e cativar o público, ou então será mais um centro comercial contemplado ao abandono.

Para mim faria mais sentido tornar o edifício numa Casa das Artes, com espaço para concertos, exposições regulares e mostra de artes performativas, oficinas, cafés e tertúlias, biblioteca e mediateca, zona de estudo e de criação artística, e por aí adiante. Mas é só uma opinião, vale o que vale.

Por fim, a principal porta da cidade. O novo Parque de Lazer da Cidade Desportiva vai ser a marca principal para quem entra na cidade e, por isso, deve ter uma imagem marcante, séria e contemporânea, não esquecendo as raízes e sendo ao mesmo tempo vanguardista.


«A admiração que temos por esta terra permanecerá igual. A nossa singularidade não está nas praças nem nas ruas, mas sim nas pessoas!»


A Horta da Cidade deve continuar verde, a trabalhar no seu principal propósito, mas merece as duas torres (espero que bem enquadradas), merece o lago artificial, merece o restauro das antigas vias e a criação de novas e merece, principalmente, ter as pessoas lá! Pelo sucesso do Parque da Cidade, da proximidade aos equipamentos da Cidade Desportiva e a uma zona cada vez mais habitada, não duvido que este novo parque não tenha sucesso.

Estas futuras intervenções, que se esperam concluídas em inícios de 2012, mudarão certamente bastante a forma de nós, vimaranenses, vivermos a nossa cidade, que não voltará certamente a ser a mesma. Seja como for, a admiração que temos por esta terra permanecerá igual. A nossa singularidade não está nas praças nem nas ruas, mas sim nas pessoas!

por Spicka de Guimarães (Cláudio Rodrigues).

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5 reacções:

António Amaro das Neves | 16:57
Este comentário foi removido pelo autor.
António Amaro das Neves | 16:59

Ora, foi preciso vir à Colina para o encontrar outra vez por estas bandas, e em excelente forma.

Quanto à apreciação que faz dos cinco projectos, gostei de ler. E registo o seu entusiasmo, concordando que a cidade não voltará a ser a mesma se se concretizarem todas aquelas obras. Mas parece-me que não deveremos dar os projectos por adquiridos, nem as obras como consumadas. Se assim não fosse, não faria sentido a discussão pública que, estou em crer, depois de correr muita água por baixo das pontes, levará a um bom par de ajustamentos.

O que eu não comungo consigo são as certezas em relação ao parque de estacionamento no Toural. Tenho muitas dúvidas quanto à sua necessidade. Ao que vejo, hoje não faz falta nenhuma e espero que daqui a umas décadas ainda faça menos falta. O que é necessário é fazer com que os carros deixem de vir para o centro da cidade, criando alternativas de transporte público ágeis, eficazes e, tanto quanto possível, não poluentes. Quanto a "tirar o fumo do pulmão, parece-me que não pudemos partir do princípio de que, por os carros passarem a andar por baixo do Toural e lá ficarem estacionados, a poluição vai, pura e simplesmente, desaparecer. Claro que não desaparece. Se esse fosse o remédio,já há muito que as estradas eram subterrâneas... O que o Toural precisa é de menos, muito menos, carros.

NrowS | 04:56

Permitam-me meter a foice em seara alheia e, ao mesmo tempo, a heresia de comentar obras de Guimarães sendo eu um bracarense.:)
Não li o post até ao fim porque desconheço a maior parte dos locais nele referidos e, a certa altura, as ideias deixaram de fazer sentido - defeito meu, não de quem assina o texto.
Falo apenas da mudança a que pretendem submeter o Toural. Há uns anos, década e meia, talvez, Braga tinha uma Avenida Central coberta de canteiros, relvados e sombra gentilmente cedida por frondosas tílias (salvo erro). Depois veio o arranjo urbanístico, o parque subterrâneo, o projecto das três fontes luminosas, a inauguração com laser. Bonito, novo, a cheirar a eleições.
A minha opinião, porém, é que a cidade, ganhando um largo que, nos dias quentes, é impiedosamente batido pelo sol que aquece toda a pedra que o compõe, criando um forno amigo do ambiente e, nos dias de chuva, forma lagos naturais de uma beleza rara e invejável - mesmo ganhando tudo isto - a cidade ficou a perder. Porque a pedra, primeiro, pode ser bonita, mas com o tempo torna-se apenas cinzenta. E porque o parque, primeiro, pode ser útil, mas com o nascimento de um segundo poucos metros ao lado, torna-se prescindível. Não debato a necessidade de se dedicar aquela praça central aos cidadãos, mas perder irremediavelmente a maior parte da alameda e jardim que ali existiam não me parece ter sido a aposta mais acertada.

Esferovite | 09:54

Sobre o projecto Campurbis: trazer a Academia para mais perto da cidade? A mítica de Guimarães está sempre bem no centro, embora pouco activa a maioria do ano. A outra foge da cidade como a cidade foge dela.

Samuel Silva | 11:43

Caro esferovite,

essa discussão já tem sido feita e volto a sublinhar a minha opinião: as duas Academias são perfeitamente compatíveis. Nem uma nem outra devem temer a influência da sua congénere. Os vimaranenses vibram todos os anos com a Latada, marcam presença na Serenata e enchem o Café Oscar quando a Afonsina lá vai, em Novembro. Por isso não concordo que a cidade fuja da Academia do Minho nem que a Academia fuja à cidade. Isto para não falar da vertente política da coisa.


bem-vindo, nrows.
A opinião dos bracarenses, "vítimas" de uma alteração da mesma índole que a prevista para o Toural no coração da sua cidade, terá um importante valor na discussão que devemos fazer.