CEC2012: o baixar da fasquia

Dentro de 19 meses Guimarães será Capital Europeia da Cultura. O evento, em preparação desde Outubro de 2006, já passou por diversas fases e percalços. Primeiro os atrasos na aprovação da candidatura, com um longuíssimo e injustificável período de silêncio. Depois, a euforia com a divulgação de novidades e uma vaga apresentação do projecto. Agora estamos num período em que baixamos a fasquia para 2012.

Houve revezes na maioria dos projectos e a CEC que teremos será quase nada daquilo que foi inicialmente anunciado. Há um evidente atraso em tudo o que vai ser feito, e o próprio grupo parlamentar do PS na Assembleia Municipal é o primeiro a dizer que, se muitas das estruturas não estiverem prontas em 2012, daí não  virá qualquer problema. Vem, sim. Veja-se o que aconteceu com o Porto 2001.

O PCP, através de Capela Dias, espera que no futuro os vimaranenses olhem para 2012 como olham hoje para 1884: um momento de viragem na vida do concelho. Muitos no PS continuam encantados com o discurso das indústrias criativas e as maravilhosas potencialidades que estas podem trazer. Certamente que isto acontece por não perceberem o que isto envolve e por não verem a impossibilidade de concretizar tudo o que é prometido em alguns discursos políticos.

É, aliás, o próprio Presidente da Câmara quem insiste em baixar a fasquia. "Quem pensa que a CEC será remédio para os problemas de Guimarães, desengane-se", declarou ontem. A mim desenganou-me. E aos seus? Falou ainda das restrições orçamentais, que não permitem fazer tudo o que se pretende. A centena de milhões de euros, aproximadamente, que estão reservados para 2012 não chegam para tudo. Espanta-me então a constante mudança de planos e a longa lista de aquisições de imóveis que a Autarquia vem fazendo ao longo dos últimos anos. Só em 2013 poderemos fazer um primeiro balanço. Mas adivinho tempos difíceis para Guimarães no futuro, com uma Câmara que poderá ficar muitíssimo endividada.

8 reacções:

Paulo Lopes Silva | 13:43

Caro Tiago,
A postura de arauto da desgraça das opções estratégicas desta Câmara é antiga, e muito conhecida dos membros do Partido que representas na Assembleia Municipal. E é a postura que mais me agrada. Baixa as expectativas às pessoas, e tudo o que se faça que ultrapasse o nível imposto agradará a todos, e por outro lado permite rir uns anos mais tarde quando olhamos para trás.

É fantástico como conseguiste perceber que a CEC que teremos será quase nada daqilo que foi inicialmente anunciado. Se calhar a Residência do Artista, Plataforma das Artes, Centro de Ciência Viva, CampUrbis e outros foram canceladas e eu não me apercebi. Devo estar desatento.

A comparação com o Porto 2001 é fácil. Com uma enorme diferença: sem Casa da Música e com o Porto esventrado para colocar o metro, as condições para um evento como uma CEC não estão reunidas. Em termos de eventos, se a CEC começar hoje mesmo em Guimarães, não fazemos uma figura assim tão má.

As industrias criativas, e esse discurso político que a ti não te convence, e que achas que devia ter já trabalho em campo será alavancado por esse ano e não o contrário. Não chegaremos a 2012 a celebrar a mudança de paradigma da cidade. Nem podíamos! Chegaremos sim, com algumas obras já concluídas e outras em conclusão, que criarão em Guimarães espaços e projectos para que este paradigma diferente da economia da região possa desenvolver-se, dando espaço a quem por cá já trabalha estas áreas, e fixando outros.

Outra ideia errada que trespassas é a de existe um bolo de 100 Milhões para alimentar a CEC. Não Tiago. Existe um orçamento para candidatura a projectos especificos, e individuais. A Câmara de Guimarães apresenta os diversos projectos, e a sua aprovação faz com que essas verbas sejam transferidas.

O futuro irá falar por si. E estou certo que Guimarães está a dar passos seguros para o passo em frente.

P.S.: (trata-se de um post scriptum e não de alguma mensagem oficial e encomendada de qualquer estrutura) É engraçado que te preocupes tanto com o convencimento ou não dos "seus" de António Magalhães. Estão todos convencidos, confiantes e do lado certo da barricada: o lado dos que pugnam pela serenidade a quem tem que trabalhar.

Tiago Laranjeiro | 15:59

Claro, Paulo. Já sabemos que tudo vai bem, tudo está a ser feito a tempo, o orçamento é suficiente, os responsáveis estão motivadíssimos, a população está a aderir, etc.

Das iniciativas previstas para a CEC, muito poucas se mantêm como anunciadas inicialmente. Quase todas sofreram profundas remodelações! Algumas caíram, outras foram totalmente modificadas.

Sobre os cem milhões de euros, não vejo o porquê da tua observação.

Paulo, a leitura que fiz foi das palavras que Magalhães utilizou na Assembleia. Foi Magalhães que baixou a fasquia.

Paulo Lopes Silva | 16:09

Porque a ideia de falar nos 100 milhões e dizer que se podia fazer isto e aquilo com eles, depende de projectos. E é nisso a Câmara está a trabalhar.

Magalhães baixou a fasquia da CEC para quem acredita que este é o momento de resolver todos os males e problemas da cidade. A renovação do tecido económico, a recuperação das casas abandonadas, o desemprego, este mundo e o outro. É uma oportunidade para dar passos seguros. Mas não é a Panaceia dos problemas da região.

Samuel Silva | 20:15

Meu caro Tiago,

para te desenganares tinhas que andar enganado. Alguma vez olhaste para a CEC como solução para os problemas de Guimarães?

Concordo, de resto, com o Paulo e com o que foi dito pelo AM na AM. Na actual circunstâncias, Guimarães ultrapassará este momento dificil com melhores condições para crescer do que a maioria das cidades portuguesas.

Samuel Silva | 20:15

Meu caro Tiago,

para te desenganares tinhas que andar enganado. Alguma vez olhaste para a CEC como solução para os problemas de Guimarães?

Concordo, de resto, com o Paulo e com o que foi dito pelo AM na AM. Na actual circunstâncias, Guimarães ultrapassará este momento dificil com melhores condições para crescer do que a maioria das cidades portuguesas.

Francisco Brito | 21:58

Caros amigos,

Parece-me que quem pôs a fasquia num plano demasiado elevado foram a Drª Cristina Azevedo e o Dr. António Magalhães...Penso que quem começou por usar a expressão "regenerar Guimarães" e a associa-la à CEC2012 foi a presidente da FCG...

Abraços,

Francisco

Paulo Lopes Silva | 22:09

Caro FB,

O facto de se associar essa ideia da regeneração da cidade, de uma mudança de perspectivas da cidade, bem como um passo certo nesse sentido, não significa uma solução para qualquer problema: é uma abertura de 2.1caminhos. Esperemos que a longo prazo, tragam um melhor futuro a Guimarães. Desenganem-se os que esperam por isto como "explosão" em 2012.

Samuel Silva | 12:47

Caro Francisco,

de Magalhães não me lembro de ouvir essa opinião excessiva sobre as indústrias criativas. As intervenções do presidente da câmara têm sido, nesse âmbito, muito equilibradas.

A FCG e Cristina Azevedo são mais arrojados quando falam das indústrias criativas. Mas estão a vender o trabalho deles, compreende-se.

A expressão regenerar Guimarães aplica-se à mesma a esta situação, sem que para isso tenha que se dizer que a cidade e o concelho vão mudar de um dia para o outro.

O que Magalhães disse (e João Salgado do PCP, também), e eu concordo, é que não será a panaceia para os problemas que vivemos. Desde logo porque há uma população que a têxtil, sobretudo, acaba de rejeitar, que não vai certamente encontrar aí solução para o seu futuro.

O que acredito - e é isso que leio nos discursos da FCG e da CMG - é que, dentro de 10 anos, estaremos melhor do que estamos e a fazer algo claramente diferente do que o que tem sido a ocupação dos vimaranenses até hoje. E vamos ter condições para sair deste momento difícil como um das cidades mais bem preparadas do país.