Uma discussão absolutamente necessária

A Câmara de Guimarães anunciou que, a partir de Janeiro, vai entrar em discussão pública o regulamento de requalificação de edifícios no centro histórico e zona tampão. Arrisco dizer que é uma discussão absolutamente necessária, urgente mesmo.

Viver no centro histórico da cidade, sendo um absoluto prazer que dificilmente dispensarei nos próximos anos, é uma aventura difícil. E muitos dos problemas que se colocam aos moradores do coração da cidade são motivados por este documento e pelas limitações que o GTL coloca a investidores e projectistas.

Volta e meia chove em minha casa. E chove por culpa do GTL, que impôs a utilização de umas telhas excessivamente leves para o vento que sopra por estes lados. Num dia de tempestade, voam as telhas e entra a água. Lê-se no regulamento que "o tipo de telha a aplicar será sempre definido pelos técnicos do GTL, consoante a data de edificação dos edifícios".

O mesmo vale para as janelas da casa, cuja utilização de caixilharias mais eficientes do ponto de vista energético - que até tem apoio do Estado através de deduções fiscais - está dificultada pelas limitações que este regulamento introduz. Na leitura do velho documento - de 1994 - saltam à vista normas cuja imposição é dificilmente justificável, como a que define que "na área de intervenção do GTL, apenas são permitidas áreas comerciais ao nível dos pisos térreos".

O GTL foi um instrumento vital da renovação vimaranense e da afirmação da cidade no contexto nacional e internacional. Tem esse mérito e um trabalho reconhecido que fala por si. Mas não pode transformar-se num empecilho ao desenvolvimento da cidade nem conservar-se como uma estrutura autista face às necessidades que 2010 e os anos que aí virão impõe.

Não defendo que se permita tudo no centro histórico - nem isso seria admitido pela Unesco, imagina-se. Não é o 80 aquilo que se quer, mas o GTL não pode também impor o 8. É por isso importante esta discussão, para que possamos chegar a uma solução equilibrada, moderna e capaz de facilitar os investimentos no centro histórico e a contínua manutenção da revitalização do centro da cidade.

10 reacções:

Mick | 14:42

Isto sem falar nos materiais que se devem utilizar e que ficam "por dentro das paredes" e que por isso nem se vêem, mas mesmo assim tem de se colocar o "barro" de merda, a rede de merda, a medeirita de merda, etc... tudo coisas que podiam ser substituidas por material mais resistente, mais moderno, mais térmico, e sem se notar a diferença...

Anónimo | 16:47

Acho que a "madeirita e o barro de merda" até são mais eficientes energicamente que o tradicional/actual tijolo e cimento, mas como de árbitro, arquitecto, médico e louco todos temos um pouco, não entro em pormenores.

O regulamento também não conheço, mas gostava de questionar a questão do comércio: há vários exemplos, como a Benetton à Santo António ou a Casa dos Vinhos à Oliveira, superiores (em altura) ao piso térreo.

Samuel Silva | 16:53

Introduzi um link para o documento no texto (tinha escapado por erro). Pode ler o que por ali se escreve, mas também pensei nesses exemplos quando li o regulamento. Não sei como foram aprovados tais investimentos, ainda que concorde que o devam ser.

Anónimo | 17:00

Eu não sei se concordo, até consigo entender um bocado essa limitação: um CH repleto de lojas até aos telhados ia tornar-se desinteressante, é importante ver as velhotas de combinação no verão, e as respectivas cuecas estendidas a secar.

Por outro lado claro que compreendo que, por exemplo, seria provavelmente benéfico para o comércio tradicional uma Zara de três ou quatro pisos num dos casarões do Toural, mas se calhar eu prefiro as coisas como estão. ;)

Samuel Silva | 19:21

A solução acertada é precisamente aquilo que eu defendo: equilíbrio. O CH é o que é porque tem gente dentro. Tercearizar por completo o CH seria matá-lo. Mas a limitação expressa no regulamento impede investimentos como esse da Zara ou uma FNAC, ou outra qualquer âncora. A menos que se evoque uma qualquer excepção (que não vislumbro no regulamento) e que devia estar bem elencada num documento que consegue ser tão específico.

Torcato Ribeiro | 20:18

Caro Samuel,

O GTL exige um tipo de telha consoante o edificio, mas permite e aconselha a impermeabilização dos telhados com subtelha Onduline.Com este procedimento, mesmo que as telhas voem não há infiltrações.

Esta questão,do meu ponto de vista, não é muito feliz, para aquilo que queres discutir.

Abraço

Samuel Silva | 09:32

Caro Torcato,

não era essa a informação que tinha, nem tinha sido isso que tinham dito ao senhorio nas várias tentativas de encontrar uma solução para o problema da casa que ele fez junto do GTL. Mas até pode ser uma dica para ajudar a acabar com isto de vez.

Usei o exemplo por ser o que me é mais próximo, mas há outros. E a morosidade e complexidade da aprovação de um projecto de reabilitação no CH é um obstáculo a alguns investimentos. Essa é para mim a questão essencial. Porque não se pode pensar em 2011 como se pensava em 1980 ou 1994.

Anónimo | 23:33

Coisas como as embargadas obras da Rua da Rainha (antiga Colonial), isso sim sao mesmo um nojo, e não vejo maneira de acabar aquilo...
Para além disso, continuo a ver neon na mesma rua (Lotário)...
Os papeis de jornal e até jornais de supermercados a tapar os vidros de lojas fechadas, são um verdadeiro atentado ao bom gosto de alguém...
Por hoje chega, mas há mais, para apróxima.

Torcato Ribeiro | 01:40

Anónimo das 23:33,

Pode parecer-lhe estranho, mas o neon da Casa Lotário já faz parte do nosso património, e é para preservar.
Sobre o "embargo" da Colonial, parece-me ser uma das questões a discutir no sentido de se obter uma maior clarificação sobre a regulamentação para estas situações.Tanto quanto sei, o projecto apontava para uma junção dos dois edifícios num só.Mas isto é o que eu ouvi falar, não garanto rigorosamente nada.

Cumprimentos

Pinto | 23:14

Efectivamente, essa do neon na sapataria Lotário, francamente a mim não me convence.
Neon no centro histórico, é a mesma coisa que eu usar gravata amarela ás bolinhas, não prejudico ninguém é certo, mas lá que a coisa não bate a cara com a coroa, lá isso não...